Promotor diz que quase interrompeu execução de Saddam

Governo investiga como celulares com câmeras de vídeo entraram no local

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma importante autoridade judicial iraquiana quase interrompeu a execução de Saddam Hussein por causa dos gritos de xiitas radicais quando o ex-presidente já estava na plataforma de enforcamento. O promotor Munkith al-Faroon, que nas imagens do enforcamento aparece pedindo ordem, disse nesta terça-feira que ameaçou ir embora se os gritos não parassem - e isso teria interrompido a execução, já que a presença de um observador do Ministério Público é obrigatória por lei. "Ameacei ir embora", Faroon disse à Reuters. "Eles sabiam que, se eu fosse, a execução não poderia continuar." As imagens de vídeo irritaram os sunitas, os xiitas moderados e os curdos. As pessoas que assistiam ao enforcamento começaram a gritar "Moqtada, Moqtada, Moqtada", em referência ao líder xiita radical Moqtada al-Sadr. Saddam, por outro lado, aparece nas imagens com um semblante digno e responde: "É isso que vocês chamam de humanidade?" Enquanto o governo iraquiano investigava como celulares com câmeras de vídeo entraram no local da execução, o promotor questionou o relato do ministro da Justiça e de seu assessor, que afirmaram que a gravação das imagens foi feita por um guarda. Faroon afirmou que uma das duas pessoas que estavam filmando era um representante do governo. "Duas autoridades estavam segurando celulares com câmeras", disse Faroon, que foi vice-promotor do caso pelo qual Saddam foi enforcado e que é o promotor-chefe do segundo julgamento, que continuará mesmo sem Saddam e que trata de genocídio contra curdos. "Um deles eu conheço. É uma autoridade do alto escalão do governo", disse Faroon, recusando-se a identificar o homem. "O outro também conheço de vista, mas não sei o nome." "Não sei como eles conseguiram entrar com o celular, porque os norte-americanos pegaram todos os telefones, até o meu, que não tem câmera." Faroon disse que foi o único promotor que participou do julgamento de Saddam por crimes contra a humanidade a estar presente em Bagdá, na execução. Saddam Hussein foi condenado pelo assassinato de 148 homens e meninos do vilarejo xiita de Dujail, ocorrido em 1982 em represália a um atentado frustrado contra sua vida, e pelo desalojamento e prisão de familiares das vítimas. As imagens da execução divulgadas pelo governo não têm som, e mostram a colocação do laço no pescoço de Saddam. Os vídeos ilegais trazem os xingamentos, o momento em que o cadafalso se abre, deixando ex-presidente pendurado e com o pescoço quebrado. Saddam estava desde que foi preso sob custódia de forças norte-americanas. Todos que participaram do julgamento de Saddam eram submetidos a minuciosas verificações de segurança. Os soldados norte-americanos entregaram Saddam aos guardas iraquianos apenas no sábado. O embaixador dos EUA, Zalmay Khalilzad, pediu a Maliki que esperasse duas semanas para executar Saddam, disse uma autoridade iraquiana à Reuters. Mas acabou cedendo diante da insistência de Maliki e da apresentação por ele de uma autorização emitida pelo presidente do Iraque, que é curdo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.