BUENOS AIRES - O promotor argentino Javier de Lucca desistiu nesta segunda-feira, 20, de levar adiante a denúncia feita por Alberto Nisman contra a presidente Cristina Kirchner por acobertamento de iranianos acusados de atacar a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia). A decisão de 27 páginas do Ministério Público, feita em terceira instância, sepulta a acusação feita por Nisman quatro dias antes de ser encontrado morto com um tiro na cabeça em seu banheiro, em 18 de janeiro. O fim do trâmite era esperado porque De Lucca, a quem o texto de Nisman chegou na semana passada, faz parte de um grupo dentro do Ministério Público e do Judiciário chamado Justiça Legítima, que se declara kirchnerista.
Nisman dizia ter provas de que um acordo feito em 2013 entre Argentina e Irã, para ouvir em Teerã os depoimentos dos acusados, envolvia na prática pactos comerciais e a retirada dos pedidos de prisão internacional emitidos pela Interpol contra parte dos iranianos. A apuração da denúncia foi rejeitada nas duas primeiras instâncias da Justiça argentina com o mesmo argumento: o acordo nunca chegou a ser concretizado (foi bloqueado pelo Parlamento iraniano e pela Justiça argentina) e os pedidos de prisão continuaram valendo. Portanto, não haveria crime. O mesmo argumento foi usado por De Lucca.
O promotor Germán Moldes, o último a tentar dar sobrevida ao trabalho de Nisman, na segunda instância da Justiça argentina, argumentou que ainda assim novas evidências deveriam ser buscadas. Conseguiu que o mesmo tribunal que se recusou a abrir uma investigação permitisse ao menos o recurso a uma corte superior. Seu pedido, entretanto, foi distribuído ao promotor ligado ao governo - o que ele viu como uma manobra jurídica, já que era possível saber quem se encarregaria de levar ou não adiante o caso dependendo do dia em que seu recurso fosse aceito. Há uma possibilidade remota que os magistrados da maior corte penal discordem de De Lucca e decidam retomar o caso.