Propondo controle de estrangeiros, extrema direita vence eleições na Suíça

Resultados preliminares mostram que SVP vai ocupar 65 lugares no Parlamento, um resultado inédito

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Por Jamil Chade e CORRESPONDENTE - GENEBRA
Atualização:

GENEBRA – Com propostas para conter a entrada de estrangeiros, a extrema direita nacionalista vence as eleições gerais na Suíça neste domingo, 18, e amplia de forma inédita seu poder. Com o tema da imigração dominando todos os debates e deixando a questão econômica em segundo plano, o Partido do Povo Suíço (SVP, em alemão) obteve um número recorde de lugares no Parlamento. 

Depois de conquistar em 2011 cerca de 27% dos votos, o SVP se consolidou como a maior força política do país. O grupo é conhecido por suas posturas ultranacionalistas, que chegaram a ser condenados por entidades de direitos humanos. 

Cidadãos contam votos das eleições na Suíça Foto: Ruben Sprich/Reuters

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Nas eleições deste fim de semana, os primeiros resultados apontavam que a formação política havia conquistado mais 11 lugares no Legislativo, chegando a 65 dos 245 lugares. Isso representaria 28% dos votos. Em segundo lugar aparece o Partido Socialista, com apenas 18% dos votos.

"No segredo das urnas, o medo da imigração venceu sobre o sentimento de pena e solidariedade", disse Dominique de Buman, vice-presidente do Partido Democrata Cristão, de centro. "As pessoas têm medo e o SVP usou isso."

A campanha foi dominada pelo tom adotado pelo SVP de alerta para o risco de um fluxo migratório e com cartazes espalhados pelo país mostrando seus candidatos vestidos com roupas tradicionais dos alpes e um passaporte suíço no bolso. Na prática, os suíços não registraram um salto importante na chegada de refugiados, mesmo com a crise na Síria. Em um ano, foram apenas 23 mil os pedidos de asilo, contra uma projeção de mais de 800 mil na vizinha Alemanha. 

O partido vencedor, porém, baseou sua campanha em propostas para colocar uma moratória sobre a concessão de asilo e ainda retirar a Suíça do acordo de Schengen, que estabelece fronteiras comuns para a Europa. 

"Está claro que a onda de imigração para a Europa é uma fonte de preocupação para as pessoas", disse o presidente do SVP, Toni Brunner. "Esse tema ainda não foi resolvido", disse. 

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Analistas e mesmo políticos da direita moderada alertam que a nova realidade pode romper com uma tradição de décadas da Suíça de formar governos colegiados, com a participação dos quatro maiores partidos do país e permitindo que todas as iniciativas sejam adotadas por unanimidade entre os diferentes partidos. 

"Tivemos uma clara guinada para a direita", disse Christophe Darbellay, presidente do Democratas Livre, de centro-direita. "Isso já era esperado. Mas não com a força que foi registrado", afirmou.

Estratégia. Para analistas, a vitória foi resultado de uma estratégia de comunicação que tinha como objetivo dar uma imagem de "moderado" para ideias extremas. "O SVP se beneficiou de um clima de incerteza criado pela onda migratória pela Europa, mesmo que a Suíça não tenha sofrido com isso", declarou Oscar Mazzoleni, cientistas político suíço.

Segundo ele, o partido abandonou a estratégia ofensiva, com cartazes que traziam ovelhas brancas chutando as negras. "Esse clima agressivo não convenceu o eleitorado moderado", disse. "Desta vez, o SVP conseguiu se descolar da imagem de ser um lobo mau", explicou. 

Numa pesquisa realizada no fim de setembro, o partido tinha o apoio de 33% dos jovens suíços, contra apenas 11% para os socialistas. "Os jovens se sentem mais próximos dos valores de defesa da nação que de valores idealistas da esquerda", disse Jacques Amos, pesquisador. 

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