Proposta brasileira contra espionagem é ineficaz, diz criador da internet

Tim Berners-Lee defendeu ativistas como Edward Snowden e outros que revelaram segredos de espionagem

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Por JAMIL CHADE - CORRESPONDENTE e GENEBRA
Atualização:

GENEBRA - O criador da internet, Tim Berners-Lee, criticou nesta quinta-feira, 5, a proposta do governo brasileiro de obrigar empresas da web a instalar seus servidores no País."Trata-se apenas de uma reação emocional do Brasil. Na prática, não terá qualquer impacto", disse Lee em entrevista coletiva em Genebra.

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Conhecido como pai da web, Lee saiu em defesa de ativistas como Edward Snowden e outros que revelaram informações de como o governo americano está usando sua criação para monitorar milhões de pessoas. Mas insiste que a saída não é o que sugere o Brasil.

"Isso não ajuda", disse o britânico. "Não é prático e não é a forma de resolver o problema da espionagem. Essa estratégia não será eficiente e não vai parar a espionagem"

Em meados de novembro, o ministro das Comunicações Paulo Bernardo garantiu que o governo não recuaria da proposta de obrigar as empresas de internet a instalar seus servidores no país, mesmo depois de críticas de especialistas do setor e da oposição de gigantes como a Google e o Facebook.

A proposta foi incluída no texto do Marco Civil da internet, projeto de lei que vai regular a web no País, como forma de endurecer o controle do governo sobre a possibilidade de espionagem e garantir que empresas forneçam informações à Justiça brasileira, se solicitado.

Berners-Lee explicou que a opção do governo brasileiro não vai funcionar por dois motivos. "O primeiro é técnico. Vai ser mais difícil operar redes sociais se cada um dos países exigir agora que servidores estejam em seis países. O segundo motivo é que a web tem como sua fortaleza justamente o fato de não ter uma nação. É algo que é mais que ser internacional. Internacional é a ONU. A web não tem nação e nacionalizar servidores não vai funcionar", declarou.

O britânico ainda alerta que a introdução desse debate no Brasil pode acabar retardando a aprovação do Marco Civil. "O que eu recomendo é retirar isso (exigência sobre servidores) e não enfraquecer o Marco, que é bom", disse o criador da web. Ele não deixou ainda de elogiar o Brasil por "liderar o debate no mundo" no que se refere à web e sua proteção.

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Interseção: Como os países podem regular a internet?

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