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Proteção legal de presidente é alvo de controvérsia

Muitos defendem que Trump está imune a processo criminal enquanto ocupar o cargo; outros dizem que ele não está acima da lei

Por Adam Liptak e Jim Rutenberg
Atualização:

Quando um advogado diz aos promotores que seu cliente o orientou a cometer um crime e confessa sua culpa, é sempre provável que o cliente também seja indiciado. Os americanos logo saberão se há uma exceção a essa regra quando o cliente é o presidente dos EUA.

Michael Cohen deixa cortefederal em Nova York Foto: Jeenah Moon/The New York Times

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Embora não exista nenhuma proibição explícita na Constituição sobre o indiciamento de um presidente, o Departamento de Justiça sempre defendeu que presidentes em exercício não estão sujeitos a um processo criminal. Isso indica que as acusações de Michael Cohen, ex-advogado do presidente, não resultarão em acusações criminais contra Trump enquanto ele exercer a função.

Cohen admitiu ter pagado a duas mulheres para que não revelassem seus casos com Trump e afetassem as eleições. Se tudo for verdade, Trump cometeu crimes graves. “As alegações estabelecem que o presidente foi cúmplice nas violações de campanha das quais Cohen reconheceu ser culpado”, diz Philip Allen Lacovara, que trabalhou com os promotores que investigaram Richard Nixon no Escândalo Watergate.

A Justiça considerou Nixon “cúmplice não indiciado” e ele acabou renunciando antes de sofrer um impeachment. Lacovara sustenta que Trump também é “um cúmplice não indiciado”. Mas, com base na política do Departamento de Justiça, ele só será processado se deixar o cargo. Uma solução intermediária seria deixar que os promotores consigam esse indiciamento, retardando o processo até Trump sair da presidência. Outra alternativa é o impeachment. 

A Suprema Corte nunca decidiu se um presidente em exercício pode ser processado. O tribunal analisou alegações de Nixon, mas não resolveu a questão. A Constituição também não é clara. Alguns juristas argumentam que o impeachment, não o processo criminal, é a maneira correta de lidar com os crimes de um presidente em exercício. 

“É discutível se a Constituição autoriza o indiciamento de um presidente em exercício”, escreveu Brett Kavanaugh, que fez parte da equipe de Ken Starr, promotor especial que investigou o ex-presidente Bill Clinton e foi indicado por Trump para integrar a Suprema Corte. É possível que o caso de Trump pare na Suprema Corte e ele seja um dos juízes.

O mais famoso opositor dessa visão é Eric Freedman, professor de Direito da Hofstra University. Segundo ele, garantir a imunidade de presidentes em exercício contra qualquer processo judicial “é incompatível com a história, a estrutura e a filosofia do governo, está em desacordo com a jurisprudência e não se justifica por considerações de caráter prático”. Freedman lembra que outras autoridades federais sujeitas ao impeachment, incluindo juízes, foram indiciadas no cargo. 

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Se Trump fosse tratado como qualquer outro candidato enfrentaria acusações similares às feitas contra o senador John Edwards, da Carolina do Norte, acusado de violações financeiras de campanha em 2011. Uma condenação significaria uma sentença de 30 anos de prisão e US$ 1,5 milhão de multa.

Emissoras CNN e NBC afirmam que Michael Cohen, ex-defensor de Trump, estava em reunião na qual o então candidato à Casa Branca autorizou encontro com advogada russa Foto: AP Photo/Pablo Martinez Monsivais

O caso de Edwards – primeiro e único do tipo – envolvia US$ 1 milhão que dois apoiadores pagaram para que Andrew Young, assessor de Edwards, assumisse uma relação amorosa com Rielle Hunter, que era amante do político. Segundo os advogados de Edwards, o dinheiro era “doação política”. 

Para acusar criminalmente Edwards, os promotores tiveram de mostrar que o dinheiro foi gasto para proteger sua candidatura. Em declarações, Cohen afirmou que sua missão era influenciar a eleição e garantiu que as ações foram por ordem de Trump. 

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