Protesto contra Putin reúne milhares de manifestantes nas ruas de Moscou

Cerca de 10 mil russos da oposição realizaram a maior manifestação contra o governo em anos

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MOSCOU - Cerca de 10 mil pessoas saíram às ruas de Moscou nesta segunda-feira, 5, para protestar contra o primeiro-ministro Vladimir Putin e o Partido Rússia Unida, que venceu as eleições parlamentares de domingo. O maior protesto da oposição em anos terminou com a prisão de mais de 300 ativistas pela tropa de choque da polícia, entre eles Ilya Yashin, organizador da passeata, o blogueiro Alexei Navalny e vários jornalistas.

 

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No protesto, os manifestantes gritavam palavras de ordem, como "Rússia sem Putin", "Vergonha" e "Revolução". Diversos líderes de grupos opositores, que não puderam participar das eleições legislativas por terem registro negado, subiram ao palanque para acusar o Rússia Unida de fraude eleitoral.

 

Eles bloquearam o trânsito em uma das principais artérias da capital russa e ameaçaram invadir a Comissão Eleitoral Central (CEC), na Praça Lubianka. A polícia interditou o acesso à praça, onde também se encontra a sede do Serviço Federal de Segurança (FSB, antiga KGB).

 

Em São Petersburgo, mais de cem pessoas também foram detidas por participar de um protesto contra as fraudes. Entre as denúncias mais graves estão o voto de eleitores ausentes, urnas com cédulas já preenchidas encontradas antes da abertura das seções eleitorais e a troca de votos por comida ou por outros tipos de benefícios.

 

Partidos opositores, jornais independentes e a ONG Golos, que monitora a votação na Rússia, reclamaram que muitos de seus observadores foram expulsos de seções eleitorais. Os sites da rádio Ekho Moskvy, do jornal Kommersant, do portal Slon.ru e da própria Golos foram tirados do ar nas primeiras horas de domingo.

 

Com 96% da apuração concluída, o Rússia Unida liderava com 49,5% dos votos, bem abaixo dos 64% que obteve nas eleições de 2007. O partido perdeu a maioria de dois terços e terá de negociar com adversários políticos, situação inédita até então.

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Diversos observadores internacionais criticaram ontem a transparência do processo eleitoral russo. A Organização pela Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) disse que a votação foi "tendenciosa em favor do partido governista", com "aparente manipulação".

 

Em comunicado, a OSCE afirmou que as eleições foram "bem organizadas", mas houve sérios problemas, principalmente na apuração. "A votação foi tendenciosa em favor do partido do governo. A comissão eleitoral não teve independência, a maioria dos meios de comunicação foi parcial e as autoridades do Estado interferiram indevidamente em diferentes níveis", declarou Petros Efthymiou, deputado grego que preside a Assembleia Parlamentar da OSCE.

 

Outra observadora, a diplomata suíça Heidi Tagliavini, disse que a legitimidade das eleições foi colocada em dúvida, principalmente porque vários partidos de oposição tiveram seus registros negados. "Para mim, essa eleição foi um jogo em que somente alguns jogadores puderam competir", disse.

 

Após o comunicado da OSCE, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, expressou "sérias preocupações" com o processo eleitoral russo. "Estamos muito preocupados com o desenrolar das eleições", disse Hillary, que participa de uma conferência sobre o Afeganistão em Bonn, na Alemanha. "Os eleitores russos merecem uma ampla investigação de todas as denúncias de fraude eleitoral." 

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