Protesto estudantil contra lei de Sarkozy fecha Sorbonne

Reitoria suspende aulas, mas presidente diz que não volta atrás em projeto sobre autonomia das universidades

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Por Andrei Netto
Atualização:

O movimento estudantil francês, que há cerca de um mês bloqueia total ou parcialmente cerca de metade das universidades do país, conseguiu ontem impedir o funcionamento de um símbolo da França, a Sorbonne. Reunidos pela manhã em piquete em um dos acessos ao prédio central, manifestantes contrários à Lei Pécresse, de reforma financeira das instituições de ensino superior, tentaram impedir a entrada de outros estudantes. Houve atritos com seguranças. Diante do risco de violência, a reitoria anunciou a suspensão das aulas e o encerramento das atividades administrativas até segunda-feira. Das 85 universidades públicas da França, 44 estão sendo afetadas pelos protestos. O fechamento do complexo Sorbonne, do qual fazem parte quatro universidades - Panthéon-Sorbonne, Sorbonne Nouvelle, Paris-Sorbonne e René Descartes, com 115 mil alunos - ocorreu no final da manhã, por ordem do Reitorado de Paris, o órgão que administra as universidades da capital. Em nota oficial, a entidade afirmou que as tentativas de negociação com o grupo de "estudantes parisienses que recorreram à violência física" não surtiram efeito, o que levou à suspensão das atividades por falta de segurança. À tarde, a União Nacional dos Estudantes da França (Unef), a maior do país, negou que tenha havido violência durante o bloqueio. "Não houve incidentes", afirmou ao Estado Julliette Griffon, porta-voz da Unef, desaprovando a atitude do grupo. "Não somos favoráveis à radicalização do movimento, mas à sua ampliação." Há 39 anos, o mesmo endereço, a Rue de la Sorbonne, foi palco de um dos confrontos entre policiais e estudantes que resultaram no movimento estudantil de Maio de 1968. Desta vez, o atrito no prédio da Sorbonne ocorreu um dia após a onda de manifestações em todo o país de universitários e secundaristas que pedem a revogação da Lei Pécresse, proposta pelo Ministério da Educação e aprovada pelo Parlamento em agosto. A lei autoriza a assinatura de acordos de cooperação com a iniciativa privada. A medida é denunciada pela Unef como o "início da privatização" do sistema de ensino francês - hoje gratuito. Mesmo sob pressão, a ministra de Educação Superior e Pesquisa, Valérie Pécresse, não abriu negociações sobre a autonomia. A posição conta com o apoio do presidente Nicolas Sarkozy, que em discurso no Palácio do Eliseu garantiu a manutenção da lei. Enquanto o movimento estudantil continua aumentando, os funcionários das estatais de transportes SNCF e RATP confirmaram a volta ao trabalho, após nove dias de paralisação. Na SNCF, apenas 2% dos funcionários mantiveram a greve. Pela manhã, trens metropolitanos chegaram a circular em Paris sem abrir as portas nas estações, mas o protesto foi encerrado. À tarde, as direções das duas companhias confirmaram a normalização dos transportes e disseram que indenizações de 10 a 35 serão pagas em janeiro aos passageiros que compram planos mensais de transporte em Paris.

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