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Protestos antivacinas viram disputa política no Canadá

O que começou com um comboio de caminhoneiros protestando contra a obrigação de se vacinar se transformou, nos últimos dias, em bloqueios na capital do país e obstrução de uma passagem na fronteira com os EUA

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Por Redação
Atualização:

OTTAWA - Os protestos contra a vacinação obrigatória anticovid e outras medidas de saúde em Ottawa protagonizadas pelos caminhoneiros alcançaram nesta terça-feira, 1º, a disputa política interna entre os opositores ao premiê Justin Trudeau. Pierre Poilievre, um dos nomes que brigam pela liderança do Partido Conservador, se reuniu com os caminhoneiros a quem elogiou por escolher a liberdade. 

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“Acabei de conversar com centenas de canadenses alegres, sal-da-terra, do tipo de canadense que faria qualquer coisa pelo outro, no protesto dos caminhoneiros. Eles escolhem a liberdade ao invés do medo”, tuitou Poilievre. 

Dias de protestos contra as políticas de pandemia e uma profunda cisão dentro do movimento conservador do Canadá destacaram o crescente poder dos movimentos populistas de direita no país, segundo análise do jornal britânico The Guardian.

Manifestantes antivacina fecham passagem na fronteira canadense com os EUA em Coutts, Alberta, em 31 de janeiro Foto: Jeff McIntosh/The Canadian Press via AP

Nesta terça-feira, lojas de varejo e clínicas de vacinação em Ottawa permaneceram fechadas porque manifestantes, que viajaram para a capital do país sob o pretexto de protestar contra a obrigatoriedade da vacina para caminhoneiros, se recusaram a deixar a cidade. 

Poilievre é um dos cotados para ocupar o lugar do líder Erin O’Toole, que corre o risco de cair por tentar levar o Partido Conservador mais ao centro. Ele recebeu críticas repetidas não apenas por perder uma eleição paraTrudeau, mas também pela forma como lidou com vários problemas nos últimos meses. A legenda deve decidir seu futuro nesta quarta-feira. 

Apesar da declaração de seu colega de partido, o governador de Ontário, o conservador Doug Ford, disse que estava extremamente perturbado ao ver as pessoas profanarem os monumentos do país e acenar com suásticas e outros símbolos de ódio e intolerância. 

Nas ruas, o que começou com um comboio de caminhoneiros protestando contra a obrigação de se vacinar se transformou, nos últimos dias, em bloqueios na capital do país e obstrução de uma passagem na fronteira com os EUA. Alguns manifestantes pressionaram funcionários de um abrigo para sem-teto para entregar comida a eles. 

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Em cenas destoantes da reputação dos canadenses de gentis e ordeiros, milhares de manifestantes em caminhões chegaram à capital no fim de semana, bloqueando deliberadamente o tráfego ao redor do Parliament Hill. Alguns urinaram e estacionaram no National War Memorial. Um dançou no Túmulo do Soldado Desconhecido. Outros carregavam placas e bandeiras com suásticas.

Pouca simpatia

Após o maior protesto pandêmico do Canadá até hoje, os manifestantes encontraram pouca simpatia em um país onde mais de 80% são vacinados. Muitas pessoas ficaram indignadas com alguns dos comportamentos grosseiros. A polícia anunciou que várias investigações criminais estão em andamento para apurar ilegalidades cometidas durante os protestos. 

O chefe de polícia de Ottawa, Peter Sloly, disse que várias investigações estão em andamento e uma linha para denúncias de casos de crimes de ódio, ameaças e agressões relacionadas à manifestação foi aberta. Sloly disse que uma pessoa foi presa em conexão com o protesto.

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O primeiro-ministro Trudeau chamou os manifestantes de Ottawa de “minoria marginal” e disse que eles refletem a proliferação de “desinformação e desinformação online, teóricos da conspiração sobre microchips, sobre Deus sabe o que mais combinar com os chapéus de papel alumínio”, em referência aos chapéus feitos com a crendice deproteger o cérebro de ameaças como campos eletromagnéticos e controle da mente. 

Os organizadores, incluindo um que defendeu visões de supremacia branca, arrecadaram milhões para o Comboio da Liberdade. O movimento atraiu o apoio do ex-presidente dos EUA Donald Trump e do bilionário da Tesla, Elon Musk

A insurreição foi vista como tão estranho para o Canadá que um cientista dos EUA se sentiu compelido a se desculpar pelo que ele retratou como influência da América. “O Canadá nos deu bondade, tolerância, poutine e hóquei e, por outro lado, exportamos esse terrível movimento falso de liberdade de saúde ligado ao extremismo da extrema direita que causou tanta perda de vidas sem sentido na América e agora pode fazer o mesmo lá", tuitou Peter Hotez, especialista em doenças infecciosas do Baylor College of Medicine, no Texas. "Nossas desculpas." 

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Muitos dos manifestantes se recusaram a usar máscaras em hotéis, shoppings e mercearias. O estudante Tim Abray disse que foi agredido pelos chamados combatentes da liberdade enquanto tirava fotos do protesto em seu bairro. /AP, REUTERS 

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