Protestos contra eleições param Porto Príncipe

Apoiadores de candidato cantor não se conformam com perda; 1 pessoa morreu e outras 5 ficaram feridas

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Pelo menos uma pessoa morreu e outras duas ficaram feridas ontem em Cap-Haitien, no norte do Haiti, durante confrontos entre seguidores do candidato governista Jude Celestin e militantes do candidato Michel Martelly. Inúmeras manifestações e conflitos causados pelos resultados do primeiro turno das eleições presidenciais, que deixaram Martelly de fora da disputa, pararam Porto Príncipe, onde a sede do partido do presidente René Préval foi incendiada. Outras cidades do país também enfrentaram protestos - em Mirebalais, três militantes ficaram feridos. Milhares de manifestantes tomaram as ruas de Porto Príncipe erguendo barricadas e iniciando incêndios, enfurecidos com o fato de que Celestin, protegido do impopular Préval, disputará o segundo turno contra a candidata Mirlande Manigat.Préval pediu que os candidatos tentassem conter seus apoiadores. Em um comunicado pelo rádio, o presidente defendeu o resultado do primeiro turno, descartando rumores de que uma fraude teria invalidado a votação e culpando a Embaixada Americana em Porto Príncipe por criticar as eleições. O presidente disse ainda que a população está sofrendo com os protestos, que começaram na terça-feira, após o anúncio dos resultados.A professora de direito e ex-primeira-dama haitiana Manigat ficou em primeiro lugar na votação, com 31,4%, seguida por Celestin, com 22,5%. Martelly obteve 21,8%, ficando atrás de Celestin por apenas 6,8 mil votos.Fogo. Jornalistas da agência Associated Press viram as chamas sobre o telhado da sede do partido governista, centro da campanha de Celestin. Testemunhas contaram que o fogo queimou o edifício por cerca de uma hora.Os manifestantes disseram que guardas atiraram enquanto o prédio era invadido. Não houve, porém, nenhuma confirmação sobre feridos no local. Vários caminhões dos bombeiros foram usados para apagar as chamas - uma cena incomum em uma cidade com poucos serviços públicos confiáveis.Veículos foram apedrejados e lojas roubadas. Funcionários estrangeiros de entidades de ajuda reclamaram que a resposta da polícia haitiana foi lenta e muitos policiais se recusaram a comparecer ao serviço por causa do resultado das eleições. A American Airlines informou que cancelou seus voos ao país, pois os protestos impediram que funcionários do aeroporto fossem trabalhar.Os partidários de Martelly incendiaram barricadas também na cidade de Pétionville, onde a fumaça dos pneus chegou a escurecer a paisagem. Milhares de pessoas tomaram as ruas entoando canções políticas. Moradores de Les Cayes contaram que prédios governamentais também foram atacados e incendiados.Em Cap-Haitien, houve confronto direto entre partidários de Celestin e Martelly. Os disparos que mataram um rapaz começaram durante uma briga entre os militantes. Um policial contou que os manifestantes saíram de vários pontos da cidade, a segunda maior do país."Se Michel Martelly não for presidente, em um ou dois dias a situação vai piorar muito. As tensões aumentarão e mataremos pessoas", disse Lucate Hans, de 22 anos, enquanto carregava um pôster da campanha de seu candidato.Validade. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou ontem que os problemas relativos às eleições são piores do que os originalmente relatados. No entanto, o chefe dos observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Comunidade do Caribe (Caricom), Colin Granderson, disse que os problemas enfrentados não invalidam o resultado. /AP e AFPPARA ENTENDERVotação foi válida, dizem observadoresAs eleições do dia 28 no Haiti não contaram com listas de votação atualizadas por causa das milhares de mortes provocadas pelo terremoto de janeiro e do recente surto de cólera. O resultado foi anunciado na terça-feira e deixou de fora do segundo turno, que será disputado em janeiro, o cantor Michel "Sweet Micky" Martelly, provocando revolta de seus militantes. Observadores internacionais, porém, declararam válido o resultado da eleição.

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