Protestos contra violência policial crescem na França

Em dia de confrontos entre forças de segurança e manifestantes, 28 pessoas foram presas e escolas fecharam as portas na região de Paris

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Por Andrei Netto , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

PARIS - Vinte e oito pessoas foram presas nesta quinta-feira, 23, durante manifestações em Paris contra a violência policial e por justiça nos últimos casos de abusos atribuídos a forças de segurança na periferia da capital. De manhã, 16 escolas foram fechadas por estudantes e manifestantes.  O protesto terminou em novo enfrentamento entre a tropa de choque e grupos de black blocs no leste parisiense. A manifestação foi organizada em redes sociais por movimentos estudantis coordenados pelo Movimento Inter-Lutas Independente (Mili), que propôs o fechamento de escolas no início da manhã. Atendendo ao chamado, alunos de ensino médio fecharam os portões de entrada com lixeiras. 

Manifestação pede "Justiça para Theo" após acusação contra policial de abuso contra um jovem da periferia de Paris Foto: AFP

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Protestos também ocorreram em cidades de periferia, como Asnières, Gennevilliers, Vanves e Clichy, onde, na véspera, nove estudantes foram presos temporariamente por conflitos com a polícia.

No fim do manhã, uma concentração de mil manifestantes ocorreu na Praça da Nação. A eles se uniram a coletivos de black blocs que também participavam de protestos contra a lei de reforma da legislação trabalhista. 

Como no ano passado, o protesto terminou em depredação de bancos, pontos comerciais e mobiliários urbanos, além de ataques contra as tropas de choque que faziam a segurança. Alguns manifestantes avançaram contra a polícia para tentar romper o cerco, lançando pedras contra os agentes. Os policiais responderam com bombas de gás lacrimogêneo.

Os choques se estenderam até o início da tarde e levaram o ministro do Interior, Bruno Le Roux, e a ministra da Educação, Najat Vallaud-Belkacem, a convocar a imprensa para fazer um apelo pelo retorno da calma às escolas de Paris.

A tensão entre estudantes e a polícia se dá em função de casos de jovens da periferia agredidos nas últimas semanas pela polícia. No mais dramático dos incidentes, Théo L., de 22 anos, foi violentado por um policial usando um cassetete na cidade de Aulnay-sous-Bois. 

Indignação. As imagens, gravadas por um cinegrafista amador, provocaram indignação na França e detonaram uma onda de manifestações. O caso se somou a outro: a morte, em uma delegacia de polícia, de um jovem, Adama Traoré, de 24 anos, em julho, em Beaumont-sur-Oise, que desencadeou uma investigação por homicídio culposo, ainda não concluída.

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Uma das críticas de ONGs e de manifestantes é que o Ministério do Interior e a Corregedoria de Polícia acobertariam a violência das forças de ordem. Não há estatísticas sobre mortos e feridos em intervenções policiais no país e observadores afirmam que o total de casos de abusos se multiplicou nos últimos dois anos - um período que coincide em parte com o estado de emergência, o decreto que ampliou os poderes da polícia e de magistrados para combater o terrorismo.

Um dos motivos de tensão entre jovens da periferia e a polícia é o chamado “controle facial”, a abordagem policial que tem como origem elementos da aparência física, como cor da pele e etnia. 

Jovens negros e de origem árabe acusam a política de discriminação, perseguição e, não raro, de tortura. “É a aparência estrangeira que causa o controle de identidade, de forma injusta e não justificada. Isso contribui para a tensão social em certas regiões, onde a relação já não é simples”, diz Aline Daillère, responsável por Polícia e Justiça na ONG Ação Cristã pela Abolição da Tortura. “Eles nos dizem que o exemplo deve vir das forças de ordem, mas elas não dão o exemplo.”

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