Protestos deixam pelo menos 50 feridos na Hungria

Foram os piores confrontos entre a polícia e manifestantes na Hungria desde a queda do comunismo e o estabelecimento da democracia, no fim dos anos 80

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Por Agencia Estado
Atualização:

Pelo menos 50 pessoas ficaram feridas em confrontos com a polícia na segunda-feira e na madrugada desta terça-feira em Budapeste, durante protesto que reuniu milhares de manifestantes na capital da Hungria para exigir a demissão do primeiro-ministro do país, Ferenc Gyurcsany. A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo e canhões d´água contra a multidão, que respondeu jogando garrafas e pedras e incendiando carros. Depois de várias horas, a polícia recuou, o que permitiu que os manifestantes invadissem a sede da TV estatal húngara. "As informações que temos de nossa gerência são de que a multidão invadiu o prédio e está agora saqueando tudo o que pode carregar. Eles já levaram nossos computadores e todo o equipamento técnico que conseguiram", disse Balazs Bende, um editor de notícias da TV estatal, que foi obrigado a sair do prédio. Protestos menores também foram registrados em outras cidades da Hungria. Gyurcsany, por sua vez, disse ao serviço de notícias estatal que não tem planos de deixar o cargo. Mentiras Os protestos começaram depois de Gyurcsany ter admitido que seu governo socialista mentiu a respeito da economia para vencer as eleições. As declarações de Gyurcsany foram gravadas em um encontro com parlamentares poucas semanas depois das eleições de abril. Não está claro como a gravação vazou, mas trechos foram veiculados na rádio estatal. Nesses trechos, Gyurcsany afirma que são necessárias duras reformas econômicas. O primeiro-ministro agradece "a divina providência, a abundância de recursos na economia mundial e centenas de truques" por manter a economia às claras. "Nós mentimos de manhã, nós mentimos à noite", diz Gyurcsany na gravação, em um discurso cheio de obscenidades. No domingo, Gyurcsany apareceu na TV estatal ressaltando a necessidade de "conter a avalanche de mentiras que tem coberto o país ao longo de muitos anos". O primeiro-ministro defendeu seu linguajar, dizendo que foi usado durante um encontro com amigos e colegas, e que ele estava orgulhoso de seu "discurso apaixonado". Gyurcsany recebeu o apoio unânime dos parlamentares socialistas, em uma votação na segunda-feira. No entanto, o presidente da Hungria, Laszlo Solyom, afirmou que Gyurcsany criou uma "crise moral". Partidos de oposição pedem sua demissão. O principal partido de oposição, o Fidesz, de centro-direita, afirma que irá boicotar o Parlamento nesta terça-feira. Nas eleições locais que deverão ocorrer dentro de duas semanas, os socialistas e sua coalizão liberal estão alcançando o Fidesz nas pesquisas. Os confrontos de segunda-feira foram os piores na Hungria entre manifestantes e polícia desde a queda do comunismo e o estabelecimento da democracia no país, no fim dos anos 80.

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