Protestos elevam tensão na Bolívia

Oposição pressiona Evo a poucos dias do referendo em que presidente e governadores colocarão cargos à prova

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Por EFE e REUTERS E AFP
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A menos de uma semana de um referendo revogatório no qual o presidente Evo Morales e governadores de oito dos nove departamentos (Estados) bolivianos devem colocar seu mandato à prova, a oposição começou a intensificar ontem a pressão sobre La Paz. Líderes dos departamentos opositores anunciaram à tarde a "massificação" de uma grave de fome e a organização de uma onda de protestos contra o governo enquanto mineiros bloquearam estradas em alguns pontos do país. O partido de Evo, Movimento ao Socialismo, denunciou ontem que jovens radicais atacaram sua sede regional em Santa Cruz e roubaram material eleitoral. O clima de crescente confrontação política obrigou Evo a suspender uma visita à cidade de Sucre, controlada pela oposição, onde ele participaria amanhã da celebração da independência da Bolívia. A mudança de planos foi anunciada depois que autoridades de Sucre decidiram excluir o presidente de vários atos oficiais. Segundo o chanceler David Choquehuanca, a viagem foi cancelada "por razões de segurança" e para evitar que a festa seja afetada por campanhas contra o referendo. Os governadores e líderes cívicos dos departamentos de Santa Cruz, Beni, Pando, Tarija e Chuquisaca (onde fica Sucre), que apóiam ou participam da greve de fome, pedem que La Paz desista do corte dos repasses para os governos locais. Desde novembro, 30% dos impostos sobre os hidrocarbonetos que eram enviados aos departamentos estão sendo usados por Evo para financiar uma pensão para idosos. "Esta greve é por uma causa justa, por recursos que nos pertencem porque sem eles teremos de paralisar obras", afirmou o prefeito de Beni, Ernesto Suárez. Ele exige que o Executivo restitua à sua região US$ 166 milhões. Outra demanda é que o presidente reconheça a autonomia de quatro regiões, aprovada pela população local em referendos que La Paz considera ilegais. Já os mineiros exigem que o Congresso aprove uma nova lei de pensões e aposentadorias. São apoiados por professores e pela Central Operária Boliviana (COB), a maior central sindical do país, que se disse disposta a aumentar as "medidas de pressão" contra o governo. O referendo revogatório será realizado no domingo. Para se manter no poder, Evo precisa obter mais de 53,7% dos votos - porcentagem com a qual foi eleito em 2005. Já os oito governadores precisam obter 50% mais um voto (Chuquisaca não participará do referendo porque sua governadora acabou de ser eleita, após a renúncia de um aliado de Evo, em novembro). Segundo uma pesquisa publicada pelo jornal boliviano La Razón no fim de semana, a popularidade do presidente hoje é de 59%. Ontem, porém, outro jornal de La Paz, o La Prensa, divulgou dados segundo os quais Evo teria 54% de aprovação. DOAÇÕES Nas últimas semanas o presidente boliviano aumentou suas visitas a diversas localidades do país, onde entrega recursos provenientes de doações venezuelanas para a execução de projetos de infra-estrutura. Em seus discursos, Evo sustenta que o que está en jogo no referendo são duas visões opostas de país: uma que apóia as privatizações e a reforma estatista impulsionada por seu governo e outra pró-privatizações. Na prática, a consulta é um instrumento com o qual governo e oposição tentam mostrar sua força num momento de crescente polarização política da Bolívia. O governo, apoiado em departamentos do Altiplano, e a oposição, com grande força nas terras baixas da Bolívia, disputam recursos e poder de decisão.

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