
07 de outubro de 2019 | 22h57
QUITO - O Ministério da Energia do Equador anunciou nesta segunda-feira, 7, a suspensão das operações em três campos petrolíferos nas províncias de Orellana e Sucumbíos, por conta dos protestos de grupos sociais opositores a algumas medidas econômicas aplicadas pelo governo, incluindo o aumento do combustível.
As operações em três campos petrolíferos, operados pela empresa pública Petroamazonas, "foram suspensas devido à tomada das instalações por grupos de pessoas alheias à operação", disse o ministério, por meio de um comunicado. A suspensão provocou uma quebra na produção de 63.250 barris por dia, equivalente a 12% da produção total do país, de 531.000 barris/dia, informou o ministério.
"Como medida de prevenção, foi solicitado ao Comando Conjunto das Forças Armadas o aumento da proteção nas instalações para salvaguardar os recursos do Estado equatoriano", acrescentou. O ministério informou que, por enquanto, não há funcionários do petroleiro retidos nos campos afetados, onde conversaram com os manifestantes "de forma pacífica".
A situação no Equador se agravou nos últimos dias, depois que o presidente do país, Lenín Moreno, anunciou a retirada de subsídios ou auxílios estatais ao preço dos combustíveis, o que levou ao aumento do valor dos combustíveis de maior consumo e a uma de onda de protestos.
A Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), uma das organizações sociais mais importantes do país, pediu uma "revolta" progressiva em todo o país e organizou um protesto de suas bases em Quito, que se juntará na próxima quarta-feira a uma mobilização de sindicatos em todo o país.
Nesta segunda-feira, milhares de camponeses e indígenas marchavam para a capital, desafiando o governo, que decretou o estado de emergência diante dos protestos.
Manifestantes das províncias do sul dos Andes partiram na noite de domingo a pé e em vans. Outros grupos de indígenas também se deslocam do norte do Equador para protagonizar a grande mobilização na quarta-feira junto a sindicatos na capital, onde, nesta segunda-feira à tarde foram retomados confrontos violentos entre manifestantes e policiais. Os protestos se aproximavam da sede do governo, que permanece isolada por agentes, no centro colonial.
Na cidade de Machachi, a 35 km de Quito, militares e policiais tentaram dispersar a marcha com bombas de gás lacrimogêneo. Barricadas e pneus também foram vistos na estrada, segundo jornalistas da France-Presse. A enorme caravana chegou à tarde até Cutuglagua, perto da cidade.
"Vamos ultrapassar a marca de 20 mil indígenas", disse em Quito Jaime Vargas, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), que em 2000 protagonizou o movimento pela queda do então presidente Jamil Mahuad, questionado por sua política econômica.
No domingo, a organização também declarou um "estado de exceção em todos os territórios indígenas". "Militares e policiais que se aproximarem de territórios indígenas serão retidos e submetidos à justiça indígena (reconhecida pela Constituição)", destacou.
Várias dezenas de militares, que desde a quinta-feira foram mobilizados para restaurar a ordem, estão sendo mantidos em comunidades do interior, segundo líderes indígenas.
Os protestos deixaram até o momento 1 civil morto, 73 feridos (incluindo 59 agentes de segurança) e 477 detidos (a maioria por vandalismo), de acordo com as autoridades.
Vários setores sociais rejeitam a decisão do governo em eliminar os subsídios, que atende a um acordo assinado com o FMI para a concessão de um empréstimo de US$ 4,2 bilhões.
A medida gerou aumentos de até 123% nos preços dos combustíveis. O galão de 3,79 litros de diesel passou de US$ 1,03 para US$ 2,30 e o da gasolina comum de US$ 1,85 para US$ 2,40.
Por conta dos tumultos, Moreno decretou o estado de exceção, que além de mobilizar as Forças Armadas, lhe confere poderes para restringir direitos como o da livre mobilidade e impor censura prévia à imprensa. / EFE e AFP
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