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Protestos internos também preocupam governo

Em Israel, gigantescas manifestações exigem mais gastos sociais e mostram insatisfação do país com custo de vida

Atualização:

TEL-AVIVA crise diplomática com a Turquia e a iminente aprovação de um novo status para os palestinos na ONU são apenas parte dos problemas enfrentados pelo governo israelense. A grande dor de cabeça do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, no entanto, parece vir de dentro de Israel. Desde julho, a maior onda de protestos da história do país exige mais investimentos em saúde, educação e programas sociais.No sábado, 450 mil pessoas saíram às ruas - cerca de 6% da população total de Israel - para exigir uma revisão do orçamento proposto pelo governo. Além do custo de vida, os manifestantes criticam a quantidade de recursos destinada aos assentamentos, o que aumentaria a desigualdade entre setores religiosos e seculares da sociedade.As manifestações começaram há três meses de maneira espontânea. Daphni Leef, de 25 anos, foi despejada de seu apartamento em Tel-Aviv. Depois de muito tempo procurando, ela descobriu que jamais conseguiria um imóvel na região metropolitana da cidade, já que seu salário não cobriria os gastos com o aluguel, que havia duplicado nos últimos cinco anos.Em 14 de julho, ela montou uma barraca na Praça Habima, em Tel-Aviv, e usou sua página no Facebook para convocar outras pessoas para o protesto. Milhares aderiram e o Boulevard Rothschild, uma das avenidas mais elegantes da cidade, rapidamente virou a "cidade das barracas".Em 30 de julho, já eram 100 mil pessoas protestando em 10 cidades. Dois dias depois, 150 mil trabalhadores municipais de todo o país anunciaram uma greve de 24 horas em solidariedade ao movimento. Em 6 de agosto, 300 mil saíram às ruas para pedir "justiça social" - recorde histórico superado no sábado.Assim, pela primeira vez, o governo israelense viu-se diante de uma questão que não tem relação com política externa, vizinhos árabes ou segurança nacional. Pressionado, Netanyahu criou o Comitê Trajtenberg, composto por acadêmicos, economistas e políticos apontados por ele. Espera-se que entre as recomendações do painel, que devem ser divulgadas em breve, estejam cortes de gastos militares, de impostos e o aumento dos investimentos na área social.Na segunda-feira, os líderes das manifestações anunciaram uma "segunda fase" dos protestos e convocaram para sábado "mil mesas-redondas" para discutir os próximos passos. Surpresos, vários analistas tentam responder à seguinte pergunta: qual o futuro do movimento? Alguns, como Hani Zubida, especialista em políticas públicas do Centro Interdisciplinar Herzliya, acreditam que seus principais líderes acabarão "cooptados pelos partidos e absorvidos pelo sistema". Muitos apostam que Itzik Shmuli, presidente da União Nacional dos Estudantes e um dos comandantes dos protestos, será, em breve, a nova cara da política de Israel. Outros, como o cientista político David Nachmias, gostariam de ver o surgimento de um novo partido que desse prioridade aos problemas sociais, e não a temas de segurança. Mas, mesmo que não surja uma nova força partidária, todos concordam que a questão social entrou de vez na agenda política de Israel. / AP

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