Putin acusa Estados Unidos de empurrarem Rússia para guerra na Ucrânia

Segundo Putin, é essencial para os russos que a Otan se comprometa a não incluir a Ucrânia no bloco, além de retirar mísseis da Polônia e da Romênia

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Por Redação
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MOSCOU - O presidente russo, Vladimir Putin, disse nesta terça-feira, 1º, que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e os Estados Unidos ignoraram as principais demandas do Kremlin nas negociações sobre a crise na Ucrânia. Segundo Putin, é essencial para os russos que a Otan se comprometa a não incluir a Ucrânia no bloco, além de retirar mísseis da Polônia e da Romênia.

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O líder russo disse ainda que a implementação de sanções econômicas contra a Rússia poderia agravar o conflito. Os americanos, por sua vez, dizem que isso ocorrerá caso os russos invadam a Ucrânia. Segundo Putin, no entanto, esse é um cenário indesejado por ele e ainda há espaço para negociações. "Discutirei essas possibilidades com o presidente francês, Emmanuel Macron, em Moscou", disse Putin, sobre um possível avanço nas negociações. 

Putin deu as declarações ao lado do premiê húngaro, Viktor Órban. A manifestação foi a primeira do chefe do Kremlin sobre a crise neste ano. Desde o fim do ano passado, a Rússia concentra mais de 100 mil soldados na fronteira da Ucrânia, como forma de pressionar o vizinho a romper com seus aliados ocidentais. 

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, concede entrevista coletiva em Moscou, ao lado do premiê da Hungria, Viktor Órban, em 1º de fevereiro Foto: Yuri Kochetkov/Pool via Reuters

Apesar de não falar publicamente sobre a concentração de tropas ou uma possível invasão, a Rússia tem aumentado a presença militar no entorno ucraniano. No dia 10, exercícios conjuntos com Belarus devem levar militares russos à fronteira norte com a Ucrânia. 

Líderes europeus tentam conversar com Putin para diminuir a temperatura com a crise. Antes da reunião com Órban, o presidente russo conversou com o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi. O chefe de governo da Itália reconheceu o agravamento da crise e alertou Putin para graves consequências se a situação seguir no rumo de um conflito armado. 

Putin deve conversar nos próximos dias com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que hoje visita o presidente ucraniano Volodmir Zelesnki

Nas negociações dos russos com os americanos, o impasse é mais visível. Depois de diplomatas dos dois países trocarem farpas na ONU na segunda-feira, uma reunião hoje terminou sem avanços. 

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Antes da entrevista em Moscou, os chefes da diplomacia da Rússia, Serguei Lavrov, e dos EUA, Antony Blinken, conversaram por telefone e se mostraram dispostos a discutir “preocupações de segurança”. 

Segundo o Departamento de Estado dos EUA, Blinken usou a conversa para reiterar posições já conhecidas, como a defesa da integridade territorial da Ucrânia e a política de “portas abertas” da Otan. Ele ainda questionou Lavrov sobre a razão das tropas na fronteira ucraniana se, como alega Moscou, não existe a intenção de um ataque.

Entenda a crise na Ucrânia

Para entender a crise envolvendo a UcrâniaRússia, os Estados Unidos e a Otan, é preciso retornar ao fim da Guerra Fria. Com o colapso dos regimes comunistas no Leste Europeu, a aliança militar entre europeus e americanos avançou rumo a leste, com países que antes eram da esfera soviética passando à zona de influência ocidental. 

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Com a ascensão de Vladimir Putin ao poder na Rússia, em 2000, lentamente começou uma reação russa no sentido de conter essa expansão para o leste. Isso ocorreu porque, para Putin, é fundamental uma espécie de 'zona-tampão' entre a Rússia e o Ocidente para a defesa estratégica de seu país.

Diante disso, primeiro, o Kremlin trabalhou para desestabilizar governos pró-Ocidente na Ucrânia e no Caucaso, ainda na primeira década deste século.Em ambos os casos, o alinhamento com a Otan e o Ocidente fazia parte da plataformas de governos como o de Viktor Yuschenko e Mikhail Saakshvilli.

Em 2008, a Guerra da Geórgia evidenciou a tensão pela primeira vez, com Putin apoiando separatistas pró-Rússia de pequenas regiões do país para desestabilizar o governo pró-Otan de Saakshvilli. Em 2014, a Rúsia anexou a Crimeia e fomentou a ação de separatistas em Donetsk e Luhansk. 

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O governo Biden e os aliados da Otan afirmam que Putin não pode negar à Ucrânia o direito de se aliar ao bloco. A adesão de qualquer dos países à aliança aumentaria a presença da Otan ao longo das fronteiras russas, mas não há nada no horizonte para garantir a adesão do país proximamente.  No fim do ano, no entanto, Putin voltou a acusar a Otan de tentar incorporar a Ucrânia à aliança.