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Putin e imigração dividem candidatos republicanos

Presidente russo é chamado de ‘gângster’ por Rubio e elogiado por Trump – que não abre mão da ameaça de deportar estrangeiros

Por Claudia Trevisan , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

Os pré-candidatos republicanos à Casa Branca uniram-se na defesa das clássicas bandeiras conservadoras de encolhimento do tamanho de Estado e redução de impostos durante seu quarto debate, na noite de terça-feira, mas divergiram em suas receitas de política externa e imigração.

O presidente russo, Vladimir Putin, foi o pivô de um dos embates da noite e chegou a ser chamado de “gângster” pelo senador Marco Rubio, um dos falcões da legenda. A reação americana à entrada da Rússia na guerra civil da Síria revelou algumas das principais divisões do partido, que tenta retornar à presidência em 2016 após oito anos de administração democrata.

Trump fala com Marco Rubio e durante debate, do qual também participaram Ben Carson e Jeb Bush 

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Líder da disputa pela nomeação ao lado do neurocirurgião Ben Carson, o bilionário Donald Trump disse ser “100%” a favor da intervenção da Rússia no conflito e aplaudiu o suposto combate do país ao Estado Islâmico.

Trump disse que conhecia Putin “muito bem”, pois ambos participaram de uma mesma edição do programa de notícias 60 Minutes, da rede de TV CBS, em setembro – o empresário só esqueceu de mencionar que ele foi entrevistado em Nova York e Putin, em Moscou.

Rubio ressaltou que nunca se encontrou com Putin e adotou a posição mais agressiva de todos em relação ao líder russo: “Ele é basicamente uma figura do crime organizado que administra um país”. Mas o apoio de Trump à intervenção russa na Síria também foi atacado pelo ex-governador Jeb Bush e a ex-CEO da Hewlett-Packard Carly Fiorina, que defenderam a criação de uma zona de exclusão aérea no país mergulhado em uma guerra civil que já custou a vida de 250 mil pessoas.

No extremo oposto, o também senador Rand Paul defendeu a redução dos gastos militares e uma atuação não-intervencionista dos EUA no cenário internacional, o que levou Rubio a classifica-lo de “isolacionista”. Adepto do conservadorismo fiscal, Paul é considerado um “libertário”, em razão da radical rejeição à interferência do governo na vida dos cidadãos.  O analista político republicano Michael Barone disse ao <CF735>Estado</CF> que as ideias de Paul ganharam espaço no partido há cerca de dois anos, mas perderam força depois que o Estado Islâmico começou a decapitar americanos. Segundo ele, a maioria da legenda se alinha com os falcões, representados entre outros por Rubio, Bush e Fiorina.

Provável candidata do Partido Democrata à presidência, Hillary Clinton foi o principal alvo dos participantes do debate, promovido pela Fox Business e transmitido na noite de terça-feira. Depois de fracassar na estratégia de atacar Rubio no debate anterior, Bush liderou as críticas à ex-secretária de Estado, a quem se referiu na maioria de suas intervenções. 

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As diferenças entre os candidatos também ficaram claras em relação ao tratamento dos 11 milhões de imigrantes que vivem de maneira ilegal nos EUA. Trump insistiu na proposta de deportá-los e foi atacado por Bush e o governador de Ohio, John Kasich. Além de não ser factível, o plano seria contrário aos valores americanos, afirmou Bush. “Isso destruiria comunidades e enviaria um sinal de que não somos o tipo de país que eu sei que a América é.”

Para Barone, os dois candidatos se distanciaram da posição da maioria dos eleitores republicanos com sua defesa de pagamento de multas e legalização da situação dos imigrantes ilegais que vivem no país – a proposta de deportação foi um dos fatores que levaram Trump à liderança nas pesquisas. 

Kyle Kondik, da Universidade da Virgínia, disse que Bush e Kasich tentam atrair o eleitor moderado do Partido Republicano. Segundo ele, é mais difícil classificar Trump, mas seu apelo se concentra entre os republicanos menos escolarizados. “A proposta de deportar 11 milhões de pessoas é absurda, mas Trump está disposto a adotar posições tão radicais que está empurrando todo mundo para a direita.”

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