Putin e Larijani roubam a cena na Conferência de Segurança

Programa nuclear iraniano e críticas do presidente russo aos Estados Unidos e à Otan dominaram os debates da conferência, encerrada neste domingo em Munique

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Por Agencia Estado
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A disputa nuclear com o Irã e as duras críticas do presidente russo, Vladimir Putin, à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e aos Estados Unidos dominaram os debates da Conferência de Segurança encerrados neste domingo em Munique. A presença do negociador-chefe iraniano para a questão nuclear, Ali Larijani, ofuscou a presença do secretário de Defesa americano, Robert Gates, embora todos esperassem seus comentários com relação ao clima de confronto criado por Putin na véspera. "Não estamos diante de uma nova Guerra Fria e não haverá uma segunda Guerra Fria. Os EUA e a Otan querem cooperar e dialogar com a Rússia" assegurou Gates, que, por seu passado na CIA (agência central de inteligência americana), disse que o discurso de Putin, ex-agente do KBG, pareceu um pouco nostálgico. No entanto, Gates deu razão ao presidente russo ao comentar que a Otan, por mais legítimas que sejam suas aspirações civis, "não é um clube social nem um grupo de amigos, mas uma aliança militar". Putin criticou a presença cada vez mais ostentosa da Otan nas fronteiras russas e acusou os EUA de violar as leis internacionais com medidas unilaterais. O presidente russo foi especialmente duro com o uso militar do espaço e a corrida armamentista que Washington supostamente provocará, acusação à qual Gates respondeu reafirmando os planos de americanos de montar um escudo de defesa antimísseis. "As discussões que mantemos com Reino Unido, Dinamarca, Polônia e República Tcheca para proteger nossos países é uma iniciativa promissora que se acrescenta às reformas institucionais e de capacidade da Otan", declarou. O ministro de Assuntos Exteriores da República Tcheca, Karel Schwarzenberg, concordou com as palavras de Gates e, em mensagem a Putin entregue ao seu ministro da Defesa, Sergei Ivanov, presente na sala, disse que seu "país fará o que tiver que fazer porque é soberano". Ivanov respondeu que a Rússia também é um país soberano, embora tenha minimizado o debate assegurando que o discurso de seu presidente não foi um discurso de confronto, mas "uma intervenção sincera e sem hipocrisia". O ministro russo concordou, no entanto, com a afirmação de Gates de que para o planeta viver em paz e segurança é preciso contar com a Rússia, pois, "embora a despesa (russa) em Defesa seja muito menor do que a da extinta URSS", a Rússia é "um país grande, com muitos vizinhos" e, além disso, é "segunda maior potência nuclear" do mundo. Ivanov também lamentou que "a cooperação entre a Rússia e a Otan, da qual tanto se fala, não tenha sido satisfatória até agora, embora ocorra o diálogo". Irã Enquanto isso, em uma suíte do hotel que acolheu a conferência, o alto representante de Política Externa e Segurança Comum da União Européia (UE), Javier Solana, mantinha um encontro bilateral com Larijani. "Bom, pode ser que haja algo novo, mas não posso dizer mais nada", respondeu Solana quando perguntado se havia detectado alguma mudança na posição iraniana. Fora este comentário, a reunião terminou "sem resultados específicos", declarou o chefe da diplomacia da UE. Após seu encontro com Solana, Larijani se reuniu com o ministro de Assuntos Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, que ainda neste domingo se encontrará com o representante europeu em Bruxelas para falar do Irã, do Oriente Médio e dos Bálcãs. Larijani falou sobre o Oriente Médio na conferência. Seu discurso foi acompanhado na sala por Gates e vários senadores americanos, entre eles John McCain e Joseph Lieberman. O único a aproveitar a rodada de perguntas com Larijani foi o senador Lindsey Graham, que sugeriu que ele aproveitasse sua passagem pela Alemanha para visitar um antigo campo de concentração nazista e acabar com as dúvidas sobre a existência do Holocausto. Larijani respondeu em poucas palavras que o Holocausto está fora de sua alçada como político e que os historiadores têm mais competência no tema. No entanto, o negociador iraniano foi mais extenso ao defender a legalidade de seu programa nuclear e ao falar da contribuição do Irã à luta contra o narcotráfico e o terrorismo internacional. "Nunca apoiamos o regime dos talibãs nem a ocupação do Iraque", disse. Larijani reiterou que a exigência para que o Irã suspenda o enriquecimento de urânio como premissa à negociação é "irracional", já que significa "castigar alguém por um crime não cometido". O iraniano assegurou estar disposto ao diálogo e se disse convencido de que seria possível "encontrar uma solução em dois meses", pois o "Irã não é um país agressor, nunca foi", e em sua "doutrina de defesa não cabem armas nucleares nem de destruição em massa".

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