02 de junho de 2012 | 03h06
Hollande conseguirá convencê-lo a abandonar esse comportamento negativo? Segundo informações obtidas em Moscou, Putin não vai mudar de atitude. Continuará usando seu poder de veto para proteger o presidente sírio.
A obstinação do líder russo é surpreendente. Assad ordena a seus soldados que atirem contra seu próprio povo e pessoas são mortas aos milhares. Putin está apoiando um ditador infame. Mas a tese do Kremlin é que Assad não é o único responsável pela violência. Os insurgentes, aqueles que exigem democracia, seriam terroristas - é a análise do russo. E Putin não deseja ser arrastado a uma aventura militar comparável àquela que a Otan realizou na Líbia.
Na época, Moscou não fez uso do seu poder de veto na ONU. Mas, para o Kremlin, ocidentais extravasaram o mandato que lhes foi confiado, perseguindo Kadafi até matá-lo. Putin não quer que isso se repita na Síria.
Mas, no fundo, o que justifica o imobilismo do presidente russo é a Primavera Árabe, as revoltas que, no ano passado, derrubaram três ditadores. Nos três casos, afirma Putin, a saída dos tiranos teve um resultado catastrófico: a chegada do islamismo.
Ao oferecer esse argumento, Putin atende a dois objetivos. De um lado, conforta a Síria, sua porta de entrada para o Oriente Médio. De outro, justifica a repressão que seu governo adotou contra a Chechênia, pequena república russa de maioria muçulmana. Putin pode afirmar, então, que se a Chechênia não tivesse sido esmagada pelos tanques ela se tornaria um novo feudo do terrorismo islâmico.
Esse seria o ponto comum, geoestratégico, entre Assad, que massacrou perto de 12 mil, e Putin, cujo Exército levou à morte milhares de chechenos. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.