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Putin faz críticas aos EUA e anuncia novos gastos militares

O presidente russo falou sobre a necessidade de melhorar as defesas do país e criticou a postura americana, comparando o governo de Bush a um "lobo voraz"

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente russo, Vladimir Putin, apresentou nesta quarta-feira seu relatório anual sobre o estado da nação destacando a luta contra a crise demográfica que aflige o país e a necessidade de melhorar a defesa da Rússia para manter o "equilíbrio estratégico de forças" no mundo. Diante dos membros das duas câmaras do Parlamento, do Gabinete de Ministros e das autoridades regionais, reunidos no Grande Palácio do Kremlin, Putin anunciou um aumento dos gastos com o desenvolvimento das Forças Armadas russas. "No próximo ano os gastos com o desenvolvimento representarão mais da metade do total do orçamento da defesa", afirmou o presidente russo, acrescentando que para os próximos cinco anos está previsto equipar a "tríade nuclear russa com novos aviões estratégicos, submarinos e lançadores de mísseis". "Hoje já se trabalha com sucesso na criação de armas de alta precisão e de ogivas com trajetória imprevisível para o inimigo potencial. Somados a meios para superar os sistemas de defesa contra mísseis, estes novos armamentos nos permitirão conservar o equilíbrio estratégico de forças", afirmou. Putin anunciou que em breve dois novos submarinos nucleares equipados com foguetes intercontinentais de última geração "Bulava" entrarão em operação. O chefe do Kremlin disse também que são "os primeiros submarinos estratégicos concluídos na nova Rússia", e lembrou que submersíveis desse tipo não eram construídos no país desde 1990. O presidente russo também pediu que não se repitam os erros do passado soviético e destacou que a criação de um sistema de defesa sólido não deve ocorrer "à custa da economia e do desenvolvimento social". O Exército deve garantir a integridade territorial da Rússia, disse ele em referência à ameaça de extremistas islâmicos na região da Chechênia. A ameaça de terrorismo, segundo ele, continua significativa e "extremistas de todos os tipos" se alimentam de conflitos religiosos. Putin lembrou que o orçamento militar dos Estados Unidos é, em números absolutos, quase 25 vezes superior ao da Rússia. Estados Unidos Em um dos poucos momentos emotivos de seu discurso, o presidente usou uma metáfora de contos de fada sobre a necessidade de construir uma casa como uma fortaleza para a defesa contra um lobo voraz, para ilustrar que a Rússia precisa aumentar suas defesas. A referência ao lobo foi uma resposta às "ações dos Estados Unidos no Iraque e seus planos em relação ao Irã, suas atividades no território da antiga União Soviética e suas críticas à Rússia", disse o analista russo Alexei Makarkin à rádio Ekho Moskvy. Em alusão aos EUA, o presidente russo perguntou "onde fica o discurso sobre a necessidade de lutar pelos direitos humanos e a democracia quando se trata de conseguir os próprios interesses?". Ele mesmo respondeu: "Pois, então, tudo é possível, não há nenhum tipo de limitação". Em outra aparente troca de farpas contra os Estados Unidos, Putin disse que os países não devem usar a candidatura russa na Organização Mundial do Comércio (OMC) para fazer exigências não relacionadas. "Os negociadores não devem usar a vontade da Rússia de entrar na OMC como uma moeda de barganha para questões que não tem nada em comum com atividades desta Organização". Crise demográfica Grande parte do discurso foi dedicada ao que qualificou como o "problema mais grave" da Rússia: a crise demográfica. Segundo o relatório de Putin, a cada ano a população russa diminui em quase 700 mil habitantes. O presidente afirmou que para resolver este problema é necessário reduzir a mortalidade, aumentar a taxa de natalidade e desenvolver uma política de imigração eficaz. "Nenhuma imigração resolverá o problema demográfico da Rússia se não encontrarmos as condições e estímulos necessários para aumentar a natalidade em nosso próprio país", afirmou o chefe do Kremlin, que propôs estabelecer uma série de incentivos econômicos para aumentar o número de nascimentos. Putin pediu ao Governo que elabore um plano de "apoio à maternidade", que deve entrar em vigor a partir de 1º de janeiro de 2007 e se estender por um período de pelo menos 10 anos. Em declarações à imprensa, o ministro da Fazenda da Rússia, Alexéi Kudrin, estimou em 40 bilhões de rublos (US$ 1,5 bilhão) o custo anual do programa proposto pelo presidente. Kudrin detalhou que o Estado está disposto a dar um auxílio de 250 mil rublos (US$ 9.250) pelo segundo filho. Em seu relatório, Putin também falou sobre o desenvolvimento da democracia, que segundo alguns líderes ocidentais, como o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, passou por retrocessos nos últimos anos. As declarações de Putin foram feitas quase uma semana depois de o vice-presidente americano Dick Cheney acusar Moscou de impedir a democracia em seus vizinhos. "Nenhuma das inquietantes tarefas colocadas diante do país poderá ser resolvida sem a garantia dos direitos e liberdades do cidadão, sem uma estruturação eficaz do Estado, sem o desenvolvimento da democracia e da sociedade civil", declarou.

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