(Atualizada às 22h42) - Vítimas de atentados terroristas recentes reivindicados pelo Estado Islâmico (EI), França e Rússia lançaram na noite de terça-feira mais uma série de bombardeios contra a cidade síria de Raqqa, horas depois de selarem uma reaproximação na luta contra a organização jihadista.
O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou ter ordenado ao Ministério da Defesa que coopere com a “aliada” França em operações na Síria, em retaliação ao atentado contra o avião da companhia russa Metrojet, derrubado no dia 31 no Egito.
A senha para a aproximação foi dada pela manhã, quando o serviço secreto russo FSB confirmou que o Airbus A-321 da Metrojet, que caiu com 224 pessoas a bordo, foi de fato vítima de um atentado, como afirmavam autoridades de França, Grã-Bretanha e Estados Unidos.
Minutos depois, Putin foi a público confirmar que, como a França, a Força Aérea russa ampliaria os ataques na Síria. Aviões bombardeiros T-22 já haviam atingido as províncias de Raqqa, “quartel-general” do grupo terrorista, e Deir es-Zor, além de atacar Alepo e Idlib, ao norte e noroeste da Síria, controladas por grupos de oposição a Assad não alinhados ao EI.
“A ação militar de nossa aviação na Síria será não apenas mantida, mas intensificada para que os criminosos percebam que o castigo é inevitável”, informou Putin.
No início da noite em Moscou, o presidente russo voltou a se pronunciar, anunciando ter ordenado a cooperação entre seu Ministério da Defesa e a Marinha da França na região. “Um grupo naval francês, liderado por um porta-aviões, entrará em breve na área de operações”, afirmou Putin em comunicado distribuído pelo Kremlin. A mensagem referia-se ao porta-aviões francês Charles De Gaulle, que ruma para o Oriente Médio. “É necessário estabelecer contato direto com a França e trabalhar com ela, como aliados”, afirmou o líder russo.
No comunicado, o Kremlin confirmou ainda que os dois presidentes conversaram por telefone e acertaram que a cooperação militar e de inteligência sobre o conflito sírio será aprimorada. O governo francês também confirmou que o presidente François Hollande visitará Moscou para um encontro bilateral no dia 26, dois dias depois da reunião que terá com o presidente dos EUA, Barack Obama, em Washington.
Forças terrestres. A cooperação entre Hollande e Putin, adversários na crise da Ucrânia, foi anunciada após a entrevista concedida por Obama, paralelamente à cúpula do G-20, na Turquia, na qual o presidente americano descartou a possibilidade de enviar forças terrestres à Síria. Embora Paris não tenha até agora mencionado em público o desejo de enviar soldados ao país, nos bastidores diplomáticos essa possibilidade é cogitada.
O ponto de inflexão ocorreu na segunda-feira, quando Hollande designou o EI como “o inimigo” de seu país na Síria – e não Bashar Assad, em um sinal de mudança de rumos da política externa que colocou Paris mais próxima da posição do governo russo, aliado de Assad.
O Palácio do Eliseu vem utilizando a expressão “ato de guerra” para definir os atentados em Paris. Essa retórica ampara os pedidos de apoio militar e de formação de uma coalizão uniforme na luta contra o EI.
O ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, evocou nesta terça-feira os tratados comunitários para reivindicar a mobilização de outros governos da União Europeia em apoio a um país sob ataque externo. “Em Bruxelas, acabo de invocar o artigo 42.7 em nome da França”, confirmou Le Drianpelo Twitter. Em reunião extraordinária do Conselho de Ministros de Defesa, ele defendeu “maior participação militar da União Europeia” no conflito.