14 de julho de 2014 | 02h05
A visita do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao Brasil tem uma agenda forte de interesse dos dois países. Enquanto o presidente russo quer usar o encontro de hoje com a presidente Dilma Rousseff e a Cúpula do Brics, em Fortaleza, para mostrar ao mundo que a Rússia não está isolada, o governo brasileiro mira na atração de investimentos para o País.
Isolado por Estados Unidos e União Europeia desde que anexou a região da Crimeia sob a alegação que esse era o desejo da população local, Putin quer mostrar ao mundo que mantém relações fortes com algumas das maiores economias globais e não está refém das potências tradicionais.
Mesmo que não obtenha um apoio explícito, a posição de neutralidade do Brasil ajuda, de certa forma, a ambição russa de mostrar que não há isolamento.
No encontro com Dilma, Putin não deve receber nenhuma declaração pública de apoio. Se o presidente russo levantar o assunto com Dilma, o que a diplomacia brasileira espera que ocorra, será atentamente ouvido, mas não terá compromisso de apoio explícito em retorno.
Ainda assim, os russos já conseguiram uma vitória: a declaração final do Brics deve incluir um ou dois parágrafos sobre a crise na Ucrânia. Em um deles, condenará genericamente o uso de sanções, fora das autorizadas pela ONU. Outro será reservado aos tradicionais desejos diplomáticos de diálogo e solução pacífica, sem citar o papel russo, o que satisfaz o Kremlin.
Mesmo sem declarações explícitas de apoio, Putin já ganha ao ser fotografado com Dilma, os presidentes da China, Xi Jinping, e da África do Sul, Jacob Zuma, e o premiê da Índia, Narendra Modi. A imagem reforça a ideia de que a Rússia não está tão isolada.
Do lado brasileiro, o interesse maior é econômico, especialmente na área de infraestrutura. A intenção é atrair a Rússia para investir nos leilões das ferrovias brasileiras, a serem abertos no ano que vem.
A intenção é consolidar um memorando de entendimento para tratamento preferencial de investimentos entre os dois países, o que abriria a porta das licitações brasileira para a empresa russa, RZD International, operadora do sistema ferroviário russo. O encontro entre Dilma e Putin servirá, ainda, para acertar mais de uma dezena de acordos de áreas que vão da educação à energia nuclear.
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