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Pyongyang anula cessar-fogo com Seul

Em resposta às novas sanções aprovadas na ONU, Coreia do Norte suspende todos os acordos de não agressão com a Coreia do Sul

Por CLÁUDIA TREVISAN , CORRESPONDENTE e PEQUIM
Atualização:

Horas depois de o Conselho de Segurança da ONU aprovar novas sanções contra o país, a Coreia do Norte anunciou ontem que anularia todos os pactos de não agressão assinados com a Coreia do Sul e retiraria seus representantes da zona desmilitarizada de Panmunjom, principal local de comunicação entre os dois lados da península.Na quinta-feira, Pyongyang havia ameaçado realizar "ataques nucleares preventivos" contra os Estados Unidos e contra a Coreia do Sul, em um retórica belicosa que ganhou intensidade desde o início da semana. Seul também subiu o tom de suas declarações e disse que a Coreia do Norte vai "desaparecer da face da Terra" caso leve adiante a ameaça de agressões nucleares. No cargo há duas semanas, a presidente sul-coreana, Park Geun-hye, prometeu "responder duramente" a eventuais "provocações" do Norte."A atual situação de nossa segurança é muito grave", declarou a presidente durante uma cerimônia de formatura de cadetes em Seul. Park usava terno cáqui escuro semelhante a um uniforme militar.Em votação unânime, o Conselho de Segurança da ONU aprovou, na quinta-feira, novas sanções financeiras contra o regime de Pyongyang e tornou obrigatória a inspeção de cargas suspeitas destinadas ou originadas no país. A resolução é a quinta do gênero adotada contra a Coreia do Norte desde 2006, quando o país realizou o primeiro de seus três testes nucleares.As sanções não impediram que o regime totalitário continuasse com seu programa atômico, que teve avanços importantes desde o ano passado. Em dezembro, o governo de Kim Jong-un conseguiu colocar um satélite em órbita com o uso de um foguete que tem tecnologia semelhante à utilizada em mísseis. No mês passado, ocorreu o terceiro teste nuclear, com a explosão de uma bomba mais leve, menor e mais potente que as detonadas em 2006 e 2009.Ação militar. Analistas do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, dos EUA, consideram elevada a probabilidade de a Coreia do Norte realizar algum tipo de "provocação militar" em breve. Segundo a instituição, atos desse tipo ocorreram semanas depois das posses de todos os presidentes sul-coreanos desde 1992 - Park Geun-hye assumiu o cargo no dia 25 de fevereiro. Jan Canrong, professor da Universidade do Povo, em Pequim, disse que a situação é preocupante e imprevisível. No entanto, ele ponderou que a Coreia do Norte não quer a guerra, apesar de sua retórica bélica, porque sabe que perderá um eventual conflito. Segundo Jin, o principal objetivo do país é negociar diretamente com os americanos. "A real intenção é forçar os Estados Unidos a conversar. Esse é o principal ponto da estratégia da Coreia do Norte", disse ele ao Estado.Professor do Centro de Estudos Coreanos da universidade chinesa Fudan, Cai Jian, não acredita que Pyongyang passará da retórica à ação. "A Coreia do Norte tenta há anos forçar a comunidade internacional a admitir seu status e garantir sua segurança por meio da assinatura de um tratado de paz", observou. Armistício. A Guerra da Coreia terminou em 1953 com a assinatura de um armistício, que previa a negociação de um acordo de paz no prazo de três meses, algo que nunca ocorreu. Tecnicamente, o Norte continua em guerra com a Coreia do Sul e com os Estados Unidos, que têm 28 mil soldados estacionados abaixo do paralelo 38, que divide a península.

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