Pyongyang cancela reuniões de famílias separadas por guerra civil

Governo norte-coreano explica que se trata de uma medida de protesto por Seul não enviar uma ajuda de milhares de toneladas de adubos e arroz ao país

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Coréia do Norte suspendeu nesta quarta-feira todos os encontros das famílias separadas pela guerra civil (1950-1953), em represália à condenação da Coréia do Sul aos testes de mísseis realizados no dia 5 de julho. A decisão, de forte carga emocional, é um sério revés no processo de aproximação destes dois países e dificulta os esforços para que Pyongyang retorne às negociações sobre seu programa nuclear, estagnadas desde novembro. "Não podemos continuar com as reuniões de parentes e famílias separadas, nem com as conversas sobre assuntos humanitários", disse o governo norte-coreano, em comunicado enviado através da Cruz Vermelha norte-coreana. A declaração, divulgada pelo Ministério da Unificação sul-coreano, explica que se trata de uma medida de protesto por Seul não enviar uma ajuda de milhares de toneladas de adubos e arroz à Coréia do Norte. O Governo sul-coreano interrompeu esse envio depois que o país comunista lançou uma série de mísseis de teste sobre o Mar do Japão, causando uma onda de reprovação na comunidade internacional. Nesta quarta-feira também foram suspensas as reuniões de famílias por videoconferência previstas para 15 de agosto e permanece suspenso o plano de construção de um centro dedicado a estes encontros, no monte Geumgang, cuja inauguração estava prevista para julho de 2007. O Governo sul-coreano mostrou seu mal-estar por esta decisão norte-coreana e pediu desculpas às famílias afetadas. Um porta-voz do Ministério da Unificação afirmou que o Executivo fará o possível para restabelecer estes contatos, ao mesmo tempo em que pediu a Pyongyang que colabore para sair desta crise e reiniciar novamente o envio de ajuda humanitária. Todas as forças políticas sul-coreanas criticaram Pyongyang, considerando que esta medida de represália atenta contra a esperança do povo coreano e não deveria estar ligada a decisões de caráter político. Reação esperada Segundo analistas locais, a reação norte-coreana já era esperada. Na semana passada, a última reunião interministerial - realizada na cidade sul-coreana de Pusan - terminou sem acordos e um dia antes do previsto, em meio a um clima de tensão pela crise dos mísseis. Pyongyang pediu na reunião o envio de meio milhão de toneladas de arroz, além de outras ajudas para sua indústria leve. Seu pedido, no entanto, foi rejeitado até que a crise provocada pelos testes seja resolvida. A Coréia do Norte considerou esta postura como uma afronta, como um abandono do espírito de reconciliação, e responsabilizou o Sul pela ruptura das negociações intercoreanas. Para alguns analistas, como o professor do Instituto de Sejong, Paek Hak-soon, a Coréia do Sul está encurralada entre os Estados Unidos e a Coréia do Norte, e suspendeu as ajudas de arroz em conformidade com a política americana. Famílias separadas As reuniões de famílias são o resultado da histórica cúpula intercoreana de Pyongyang de 2000, entre o então presidente sul-coreano, Kim Dae-jung, e o líder norte-coreano, Kim Jong-il, que abriu o processo de reconciliação entre as duas Coréias após meio século de confrontos. Desde então, cerca de 16 mil famílias do Sul se reuniram com seus parentes do Norte em 14 ocasiões - quatro vezes através de videoconferências. Apenas na Coréia do Sul mais de 90 mil famílias continuam separadas. Nos últimos dois anos, centenas de pessoas afetadas por esta tragédia morreram, devido a sua idade avançada. A Cruz Vermelha sul-coreana manifestou nesta quarta-feira sua preocupação com o efeito que esta suspensão das reuniões possa ter nos mais idosos. Corrida armamentista O presidente sul-coreano, Roh Moo-hyun, descreveu o lançamento de mísseis realizado pela Coréia do Norte no início de julho como um "comportamento errado" por colocar em risco as relações intercoreanas. "O lançamento de mísseis não só ameaça a paz e a estabilidade e aumenta a tensão na península, como também pode desencadear uma corrida armamentista", afirmou o governante, segundo seu conselheiro-chefe em matéria de Política Externa e Segurança Nacional, Song Min-soon.

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