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Pyongyang faz novo teste de míssil e Seul ameaça interceptar navios

Coreia do Norte adverte que reação de sul-coreanos seria declaração de guerra e tensão se amplia na península

Por Cláudia Trevisan e PEQUIM
Atualização:

A tensão no nordeste da Ásia aumentou ontem com o lançamento de mais três mísseis de curto alcance pela Coreia do Norte (outros três foram lançados na segunda-feira) e o anúncio da Coreia do Sul de que vai aderir formalmente à iniciativa que permite a interceptação de navios suspeitos de carregar materiais ou armas de destruição em massa, gesto que os vizinhos comunistas veem como uma declaração de guerra. Tecnicamente, os dois países permanecem em conflito desde 1950, quando teve início a guerra que dividiu a Península da Coreia. Um cessar-fogo foi estabelecido em 1953, mas as partes nunca firmaram um acordo de paz. Chamado de Iniciativa de Segurança contra Proliferação, o mecanismo de interceptação de navios foi criado em 2003 por sugestão dos EUA, mas Seul resistia a integrá-lo na esperança de obter avanços na negociação com Pyongyang. A Coreia do Norte opõe-se à iniciativa e afirmou em abril que a eventual adesão da Coreia do Sul a ela seria uma "indisfarçada declaração de confronto e uma declaração de guerra". Na época, a ditadura comandada por Kim Jong-il ressaltou que o vizinho não poderia esquecer que Seul está apenas a 50 km da linha que demarca a divisão entre os dois países. Os sul-coreanos anunciaram a intenção de integrar a iniciativa depois de Pyongyang lançar um foguete de longo alcance em 5 de abril, mas a decisão foi adiada em favor da continuidade da negociação. A cautela foi abandonada depois de a Coreia do Norte ter realizado na segunda-feira seu segundo teste nuclear em menos de três anos, com a explosão de um artefato que pode ter potência comparável à bomba que os EUA lançaram em Hiroshima em 1945. Além de disparar três mísseis de curto alcance ontem, Pyongyang acusou os EUA de comportamento hostil e alertou que qualquer "ataque preventivo" contra a Coreia do Norte será um "desastre". Segundo nota divulgada pela agência de notícias oficial, "os EUA deveriam abandonar seus movimentos militares perigosos contra a República Popular Democrática da Coreia do Norte". O jornal sul-coreano Chosun Ilbo informou ontem que satélites americanos captaram sinais de que a Coreia do Norte já retomou as operações na instalação nuclear de Yongbyon, que havia sido desabilitada. A comunidade internacional criticou de maneira veemente na segunda-feira a realização do teste nuclear e o Conselho de Segurança da ONU deverá aprovar em breve uma resolução condenando o país. A dúvida é o que mais pode ser feito contra um regime que já se encontra isolado. É pouco provável que a China - um dos cinco membros do Conselho de Segurança com poder de veto - aprove medidas radicais contra o governo norte-coreano. Principal aliado de Pyongyang, Pequim não quer ver uma crise humana no país vizinho, que poderia levar ao drástico aumento do número de norte-coreanos que buscam refúgio na China. O secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, participará no sábado em Cingapura de uma reunião tripartite com seus colegas do Japão e da Coreia do Sul para discutir sobre a Coreia do Norte. HISTÓRICO DA CRISE Outubro de 2006 - Primeiro teste nuclear norte-coreano Fevereiro de 2007 - Pyongyang fecha reator nuclear em troca de combustível Outubro de 2008 - EUA retiram Coreia do Norte da lista de patrocinadores do terrorismo Dezembro de 2008 - Ajuda americana é suspensa Abril de 2009 - Foguete é lançado sob pretexto de colocar satélite em órbita

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