PUBLICIDADE

Pyongyang quer acabar com 'estado de guerra'

Após acordo nuclear de quarta-feira, Coreia do Norte tenta fazer EUA assinarem tratado de paz formalmente encerrando conflito dos anos 50

Por CLÁUDIA TREVISAN , CORRESPONDENTE e PEQUIM
Atualização:

O acordo fechado anteontem entre EUA e Coreia do Norte é só o começo de uma longa negociação. No centro das conversas estará uma das principais demandas de Pyongyang para abandonar seu arsenal atômico: a assinatura de um acordo de paz que coloque um fim oficial à Guerra da Coreia (1950-1953) e normalize a relação com Washington - algo difícil de ser entregue por Barack Obama em ano eleitoral."O sucesso das negociações vai depender fundamentalmente da atitude dos EUA e de quão seriamente eles tratarem as demandas norte-coreanas", opinou Paik Hak-soon, diretor do Centro de Estudos da Coreia do Norte do Instituto Sejong e um dos mais respeitados especialistas no assunto na Coreia do Sul.Depois de quase três anos de paralisia nas negociações, a Coreia do Norte anunciou anteontem a suspensão de seu programa de enriquecimento de urânio e de testes de armas nucleares, além de concordar com a entrada no país de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Em troca, os EUA doarão 240 mil toneladas de alimentos ao empobrecido país.Jin Canrong, vice-diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade do Povo da China, afirmou que o pacto tem "fragilidades", mas poderá garantir estabilidade na região neste ano, o que é crucial não apenas para o futuro político de Obama, mas também para a China.O PC chinês iniciará no segundo semestre o processo de sucessão de geração de líderes, que ocorre a cada dez anos, e Pequim não gostaria de enfrentar surpresas como uma crise detonada por um novo teste nuclear norte-coreano. "O acordo poderá evitar problemas neste ano", ressaltou Jin, que faz parte do establishment de pensadores da política externa chinesa.No entanto, ele observou que o pacto pode ser revertido, caso a Coreia do Norte se convença de que os EUA não avançam de forma efetiva no diálogo em torno de suas demandas. "Eles querem a normalização de relações com os EUA e não creio que Washington esteja pronto para atender essa pretensão", afirmou.O texto do acordo ressalta que Pyongyang cumprirá suas promessas desde que as conversações "prossigam de modo frutífero". Na opinião de Paik, isso significa avanços nas duas históricas demandas norte-coreanas: a assinatura do acordo de paz e o abandono da política anti-Pyongyang adotada pelos EUA. Em outras palavras, eles querem a garantia de que não serão invadidos nem serão alvo de tentativas de mudança de seu regime.Segundo Paik, a Coreia do Norte também vê a normalização de suas relações com os Estados Unidos como uma maneira de reduzir sua dependência em relação à China.As limitações do anúncio também foram ressaltadas por Cai Jian, do Centro de Estudos da Coreia do Norte da Universidade Fudan, de Xangai. "O pacto vai reduzir tensões, mas é o ponto de partida. Nós temos de esperar e ver se haverá progressos adicionais", disse, lembrando que a Coreia do Norte voltou a desenvolver seu programa nuclear depois de suspensões temporárias no passado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.