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Quadrilhas haitianas podem se desarmar em troca de acordo de paz

"Queremos liberdade para viver sem medo, como seres humanos, não como animais fechados em guetos"

Por Agencia Estado
Atualização:

As quadrilhas que controlam os bairros mais pobres e populosos da capital do Haiti entregarão suas armas se o Governo oferecer um acordo de paz, disse à Efe um de seus principais líderes, William Baptiste, conhecido como Ti Blanc. Aos 25 anos, Ti Blanc controla com um punhado de homens armados o bairro de Cité Militaire, um dos mais conflituosos de Porto Príncipe. Ele é uma das pessoas mais procuradas pela Polícia do país e pelas forças da Missão Especial das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah). Os homens de Ti Blanc há várias semanas enfrentam a Minustah, principalmente o batalhão brasileiro, responsável pela segurança em Cité Militaire. "Queremos avançar por meio do diálogo, queremos garantias de que não haverá repressão e de que vida dos haitianos nos guetos será respeitada, assim como o seu direito de trabalhar e de se integrar na sociedade", disse Baptiste em entrevista à Efe. "Queremos liberdade para viver sem medo, como seres humanos, não como animais fechados em guetos", acrescentou. Boa parte das mortes em confrontos armados e seqüestros em Porto Príncipe durante os últimos dois anos são atribuídos pelas autoridades a quadrilhas como a de Ti Blanc. Evens e Amaral Duclona, que se refugiam no bairro de Cité Soleil, o mais povoado da cidade, são outros líderes procurados. Os grupos se armaram com o apoio de Jean Bertrand Aristide, atualmente exilado na África do Sul, no início da crise que finalmente obrigou o então presidente a abandonar o Governo e o país, em fevereiro de 2004. "A Minustah sabe, e nós também, que a situação tem que mudar. E eu garanto que vai. Só temos que entrar num acordo em alguns pontos", disse Ti Blanc. O presidente René García Préval e seu primeiro-ministro, Jacques Edouard Alexis, assim como os chefes da Minustah, já iniciaram diversas negociações com os líderes dos grupos armados, sem resultados positivos até o momento. O Representante Especial do secretário-geral da ONU no Haiti, o guatemalteco Edmund Mulet, anunciou recentemente que a Minustah e o Governo haitiano estão preparados para oferecer um plano de desarmamento. "Estamos prontos para receber mil membros que queiram se desarmar", assegurou. "As declarações do senhor Mulet poderiam ter vindo antes, mas são positivas", respondeu Ti Blanc. "Estamos ansiosos por caminhar ao lado deste Governo, que é legítimo e constitucional", acrescentou. Ti Blanc afirmou que está em contato permanente com os demais líderes de grupos armados e que "todos estão de acordo" com a idéia. "Não somos delinqüentes nem grupos armados. Somos combatentes políticos e esta situação requer uma negociação política", ressaltou. "A Minustah deve cessar suas operações militares nos guetos para que o diálogo tome o lugar das armas", exigiu, admitindo porém que a Minustah estabeleça uma base em Cité Militaire, "se for para garantir a segurança das organizações sociais e começar a construir escolas, quadras de esportes para as crianças e infra-estruturas que melhorem a vida da população". O Plano de Desarmamento do Governo deve ser apresentado à população haitiana nos próximos dias. Ele prevê dinheiro, comida e formação profissional para os membros das quadrilhas que aderirem. O presidente haitiano, no entanto, afirmou recentemente durante uma visita a Cité Militaire que quem não se desarmar "só terá outra opção: morrer".

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