Quando o suspeito de terrorismo mora ao lado

Segundo jornalista, ele sempre fumava na porta do prédio; ele dizia que estava sem emprego havia 2 anos

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Por Luciana Xavier , CORRESPONDENTE e NOVA YORK
Atualização:

NOVA YORK - O dominicano naturalizado americano José Pimentel, preso no fim de semana em Nova York por planejar fabricar uma bomba caseira, vivia no quinto andar de um prédio antigo na Rua 137 do bairro de Hamilton Heights, perto do Harlem, com o tio, a mãe e a avó. Moro no terceiro andar do mesmo prédio.

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Pimentel disse à polícia que é um "lobo solitário", não filiado a nenhuma facção terrorista. E era isso mesmo que ele parecia: um lobo solitário. Passava horas a fio parado, na frente do prédio, fumando cigarro às vezes. Era de poucas palavras, mas sempre educado, mais do que a maioria. Sempre dizia bom dia, apressava-se para abrir a porta do edifício quando eu chegava com sacolas do supermercado e a segurava até que eu entrasse. Ele tinha uma barba curta e sempre usava o cabelo preso com uma bandana - geralmente azul. Creio que uma vez o vi usando um turbante, mas não era seu costume. Recentemente, Pimentel cortou o cabelo e deixou de lado o lenço.

A atitude de Pimentel tinha algo de suspeita, chegamos a comentar isso algumas vezes em família, mas nada que chegasse perto de imaginar que ele tivesse ideias terroristas. Foi uma grande surpresa para mim e todos os vizinhos que moram há algum tempo aqui. O zelador do prédio, Alex Gonzales, estava tão perplexo quanto todos os demais moradores.

Eu achava estranho alguém tão jovem e forte - ao redor de 1,85m e acima do peso - não trabalhar, ficar tanto tempo na porta de entrada do edifício ou sentado na escada, apenas observando os que entravam e saíam. Era raro haver um dia em que ele não estivesse na rua.

Aos vizinhos, Pimentel sempre dizia que estava desempregado. E com mais de 14 milhões de desempregados nos Estados Unidos, não era difícil acreditar que ele fosse um deles.

A polícia o observava desde 2009 e tinha um informante, que gravou várias conversas com Pimentel. No último dia 16, ele teria dito que pretendia pedir a um vizinho uma furadeira. Obviamente eu não era esse tal vizinho, porque não tínhamos proximidade para que me pedisse algo emprestado.

Uma vez, ele fez perguntas a alguém da minha família sobre para onde estávamos indo, se as crianças iriam junto, se o apartamento ficaria vazio. Perguntas normais para uma conversa de vizinhos, mas agora, de lembrar, são suspeitas.

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Ele contou que tinha morado praticamente a vida toda na vizinhança, morado nesse mesmo prédio. Comentou ainda que o bairro já foi muito perigoso, nos anos 80 e 90, que não se podia andar à noite nas ruas, mas que o Harlem e arredores tinham mudado muito e era mais seguro viver aqui hoje em dia. Eu, na verdade, diria que nem tanto. / AGÊNCIA ESTADO

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