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Quase metade dos desaparecidos do WTC é de imigrantes

Por Agencia Estado
Atualização:

Estimativas extra-oficiais das autoridades de Nova York dão conta de que aproximadamente 2.500 dos cerca de 6 mil desaparecidos após o atentado ao World Trade Center eram imigrantes. Vítimas de pelo menos 65 países ou, como declarou a senadora Hillary Clinton, do Partido Democrata de Nova York, "de todos os cantos do mundo". Os latinos compõem o maior grupo de imigrantes de Nova York, representando 27% da população, de acordo o Censo de 2000. Depois do atentado, mais de 200 pessoas de 18 países latinos das Américas do Sul e Central continuam sendo procuradas por seus familiares, e a morte de 7 delas já foi confirmada, após terem seus corpos identificados. Outras permanecem incógnitas. Como o gaúcho A. A. S., de 30 anos, que continua um mistério para as autoridades brasileiras e para sua família em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. O imigrante ilegal, que teria ligado de um hospital de Nova York para sua ex-mulher no Brasil três dias após o atentado dizendo que estava ferido, não fez novo contato com a família, nem foi encontrado nas listas de pacientes atentidos nos hospitais depois do ataque ao WTC. Então o que aconteceu com A.A.S? E quantos desconhecidos, ilegais e indocumentados estariam entre os milhares de mortos e desaparecidos? Esta é uma pergunta para a qual nenhuma autoridade tem resposta. "Os números que temos (de procurados) não necessariamente correspondem à realidade, mas sim à realidade conhecida", afirmou o Cônsul-Geral do Brasil, embaixador Flávio Perri. "Há pessoas - não só ilegais - que nunca serão descobertas." Os números sobre trabalhadores clandestinos são apenas especulações. O vice-cônsul de Honduras, Julio Cesar Enamorado, disse que há informações de que cerca de 70% dos hispanos e latinos que trabalhavam no WTC eram ilegais. No entanto, o próprio Enamorado admite que esse é um dado impossível de confirmar ou averiguar. Incertezas como essa provocam desconfiança quanto aos números oficiais de vítimas do atentado. Maria Julia Castañeda, representante do Consulado de El Salvador - o país latino-americano com o maior número de vítimas, contando 72 pessoas desaparecidas - acredita que nunca saberá quantos realmente morreram no desastre. "O número jamais será o real", disse. Famílias de imigrantes ilegais temem ser denunciadas ou deportadas ao pedir a busca de um parente. No entanto, a assessoria da Prefeitura de Nova York afirmou que elas terão a chance de requisitar certificados de óbito, válidos para o encaminhamento de seguros e heranças. De acordo com o assessor, famílias que não têm como provar que as vítimas tinham vínculo empregatício com o WTC - no caso de trabalhadores informais - devem fornecer o máximo de provas sobre elas como certificado de nascimento, provas de residência em Nova York e testemunhas. Ainda assim, a obtenção do certificado não é garantida, pois depende de uma decisão da Justiça. "Famílias com problemas de imigração que se apresentarem ao Centro de Atendimento às vítimas criado pela administração municipal não serão denunciadas às autoridades federais de imigração", disse, "o Centro fará tudo que for possível para ajudar todas as vítimas envolvidas, independentemente do status de cada uma". O diretor do Serviço de Imigração e Naturalização dos Estados Unidos (INS), James Ziglar, divulgou nota no dia 21 incentivando as famílias de vítimas ilegais a não terem medo de procurar as autoridades para pedir auxílio. "Quero assegurar a essas pessoas que o INS não solicitará qualquer dado das autoridades locais referentes aos esforços de resgate e recuperação", afirmou Ziglar. Outra preocupação entre os trabalhadores clandestinos é o desemprego. Sem documentos para entrar com pedido de seguro-desemprego - o que normalmente garante o pagamento de 60% do salário do funcionário por seis meses -, esses imigrantes precisam encontrar novas formas de sobrevivência. O que tem sido cada vez mais difícil em meio a restaurantes vazios e empresas fechadas.

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