Quatro muçulmanas são multadas por uso do véu na França

Mulheres desafiam lei que proíbe trajes que cubram o rosto; ONG quer criar fundo para pagar multas

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Por Andrei Netto
Atualização:

CORRESPONDENTE / PARIS Pelo menos quatro mulheres muçulmanas teriam sido multadas ontem, em Paris e na região metropolitana, por vestir os véus islâmicos integrais - conhecidos como burca e niqab. Segundo o Ministério do Interior, "várias" mulheres foram multadas ontem em todo o país pelo uso da burca. Mas o órgão não divulgou números precisos, limitando-se a confirmar as autuações na região parisiense. A reação da polícia revela que a resistência continua sendo a estratégia das islâmicas para enfrentar a nova legislação na França. Além das quatro punidas as em Paris e nas cidades de Yvelines e Saint-Denis, outras duas mulheres, detidas na segunda-feira em protestos realizados diante da catedral de Notre-Dame e do Palácio do Eliseu, foram intimadas a comparecer à Justiça. A lei entrou em vigor na segunda-feira.As autuações de ontem confirmam uma tendência. Muçulmanas ouvidas pela reportagem manifestaram disposição de desafiar a lei sempre que saírem de casa. "Vou me esforçar para que a lei não mude o meu cotidiano. Talvez eu corra o risco de ser presa, mas acho que vale a pena", afirmou Hind Ahmas, de 31 anos. Apesar da disposição de resistir, a mãe divorciada admite que reduzirá suas saídas à rua para evitar o risco de ser alvo de violência. "Já fui agredida no rosto por uma pessoa quando estava com minha filha de 3 anos", disse.Preocupado com o que considera uma "repressão" às mulheres muçulmanas, a associação Touchez pas à ma Constitution - na tradução livre "Não toque na minha Constituição" - promete pagar as multas de ? 150 previstas pela lei. Rachid Nekkaz, coordenador da ONG, afirmou ao Estado que vai leiloar um imóvel em Paris, avaliado em ? 2 milhões, para arrecadar no mínimo ? 1 milhão para saldar todas as infrações cometidas por muçulmanas na França. "Sou particularmente contra a burca e o niqab, mas não posso deixar de me levantar contra essa legislação", justificou Nekkaz, francês muçulmano casado com uma americana católica.

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