
25 de agosto de 2011 | 19h03
BUENOS AIRES - A queda do ditador da Líbia, Muamar Kadafi, é insuficiente para normalizar a situação no país árabe, disse nesta quinta-feira, 25, em Buenos Aires, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. "Será necessário que o futuro governo, um governo de transição, se preocupe em reconstruir a união nacional e em apaziguar a situação interna", disse Patriota, na embaixada do Brasil na capital argentina.
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O Brasil não reconheceu o Conselho Nacional de Transição líbio (CNT), formado por rebeldes, como governo interino da Líbia, como fez boa parte da comunidade internacional, incluindo países europeus, árabes e os Estados Unidos. Segundo Patriota, a percepção do Brasil a respeito dos acontecimentos na Líbia é a mesma dos outros países do grupo dos Bric (integrado por Brasil, Rússia, Índia, China), que também não deram respaldo ao CNT.
No entanto, o chanceler brasileiro disse que os Brics reconhecem o Conselho como um "interlocutor valido". Há dois dias, em Brasília, Patriota disse que o CNT não tinha representatividade nacional.
Nesta quinta-feira, o líder do CNT, Mustafa Abdel Jalil, disse que os países que apoiam o Conselho terão facilidades no processo de reconstrução da Líbia. "Prometemos favorecer os países que têm nos ajudado, especialmente no desenvolvimento da Líbia. Nós vamos negociar com eles de acordo com o nível de apoio que eles nos deram", disse.
Empresas brasileiras como a Odebrecht, Andrade Gutierrez e Petrobrás tem grandes investimentos na Líbia. Em entrevista à BBC Brasil, o embaixador brasileiro no Egito, Cesario Melantonio Neto, disse ter recebido dos rebeldes garantias de que os contratos serão respeitados, após reunião com o CNT em Benghazi.
Unasul
Patriota fez as declarações sobre a Líbia após encontro com os chanceleres da Unasul, na capital argentina. Segundo ele, "Brasil e Colômbia, que atualmente estão sentados no Conselho de Segurança da ONU, queriam compartilhar informações (sobre a Líbia com os outros países da Unasul)", disse.
O chanceler tentou minimizar as diferentes perspectivas sobre a situação na Líbia entre os países da América do Sul. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, já manifestou apoio a Kadafi. De acordo com o ministro, há consenso no bloco de que o próximo governo líbio deve organizar eleições populares.
O ministro disse que não existe qualquer discussão sobre uma possível concessão de asilo do Brasil a Kadafi, como chegou a ser especulado. Ele também negou que o líbio tenha feito o pedido ao governo brasileiro. "Este assunto não está em consideração", afirmou.
Ajuda urgente
O Conselho Nacional de Transição disse que precisa de US$ 5 bilhões para evitar uma crise humanitária no país. Membros do CNT estão negociando a liberação de investimentos do regime líbio em contas no exterior. Estados Unidos, Suíça, França e Itália já prometeram descongelar ativos da Líbia.
O líder do CNT, Mahmoud Jibril, disse na Itália que o Conselho precisa de ajuda urgente. "Nosso povo não tem recebido salário por meses. Estamos dizendo a nossos amigos que o maior elemento desestabilizador seria o fracasso do CNT, caso não consigamos oferecer os serviços necessários e pagar o salário (dos servidores)", disse Jibril. Ele falou ao lado do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, um dia após encontrar o presidente francês, Nicolas Sarkozy.
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