Queda do EI evidencia fragilidade de coalizão na Síria e no Iraque

Estados Unidos duelam com o Irã pela influência sobre territórios abandonados por jihadistas do ‘califado’

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Por THE ECONOMIST
Atualização:

Descendo o Rio Eufrates, a meio caminho entre a cidade de Deir es-Zor e a fronteira da Síria com o Iraque, fica Dura Europos, metrópole da Antiguidade onde os partos da Pérsia e o Império Romano passaram anos disputando o controle do Oriente Médio. A história, ao que parece, está se repetindo. Com o Estado Islâmico recuando cada vez mais, a coalizão liderada pelos Estados Unidos corre para assumir o controle dessa extensão do rio, antes que o Irã e seus aliados cheguem lá.

Grande mesquita destruída pelo EI em Mossul, Iraque Foto: REUTERS/Suhaib Salem

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Os EUA e seus aliados jamais tinham estabelecido presença tão sólida em território sírio. No norte, os americanos colaboram com os curdos na tentativa de criar uma região autônoma. A área é utilizada para oferecer apoio a forças curdas e árabes que avançam pela margem norte do rio. Grupos sírios próximos dos EUA conquistaram bolsões ao longo da fronteira com a Jordânia, da cidade de Deraa ao norte de Al-Tanf, base militar da coalizão.

No entanto, tal como seus antepassados partos, o Irã e seus aliados estão em vantagem. O Exército sírio, com apoio da Força Al-Quds iraniana, além de milícias xiitas e tribais, e cobertura aérea da Rússia, está se aproximando de Deir es-Zor. No norte, os sírios chegaram à margem sul do Eufrates. Tropas provenientes de Palmira atravessaram mais de 150 km de deserto. No sul, já estão na fronteira com o Iraque.

Em outras regiões, as conquistas dos iranianos são ainda mais impressionantes. O Hezbollah, milícia libanesa xiita apoiada pelo Irã, é aplaudido por ter expulso o EI do Líbano (muito embora alguns critiquem o acordo feito com os jihadistas, que permitiu seu recuo). No noroeste do Iraque, as Unidades de Mobilização Popular (UMP), apoiadas pelo Irã, estão ganhando terreno.

Reconquistaram Tal-Afar e pretendem manter a cidade sob seu controle, diz Mowaffaq Rubaie, um ex-assessor de segurança do Iraque. Se conseguirem, ajudarão o Irã a aumentar sua influência, formando uma guarda quase fronteiriça e criando uma zona de proteção contra os curdos.

Mais ao sul, os americanos também tiveram frustradas suas esperanças de conter os avanços do Irã pela Província de Anbar. Um contrato vencido pelo Olive Group, subsidiária da empresa americana de segurança Constellis, para patrulhar a rodovia que liga Bagdá a Amã “não terá prosseguimento”, diz um assessor do primeiro-ministro do Iraque. A tarefa ficará a cargo das UMP e do Exército iraquiano.

Os EUA e o Irã não estão prestes a se enfrentar diretamente. Depois de anos de rivalidade em relação à Síria, americanos e russos concordaram com a criação de “zonas de não conflito”. E, no Iraque, EUA e Irã veem coordenando boa parte das ações em suas respectivas campanhas contra o Estado Islâmico.

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Brett McGurk, funcionário do governo americano, reúne-se com frequência com Hadi al-Amari, que é possivelmente o líder mais poderoso e mais pró-Irã das UMP. Contrariando as previsões, têm sido raros os episódios de hostilidade entre as diversas forças que combatem o EI.

Isso é algo que pode mudar quando o inimigo comum estiver derrotado. “Enquanto estivermos em guerra com o EI, tanto faz se o território é controlado pelo Exército do Iraque ou pelos peshmerga ou pelas UMP. O fundamental é que não seja o EI”, diz uma autoridade iraquiana. “Mas quando a missão tiver sido cumprida, isso vai mudar.”

Líderes curdos no Iraque pretendem realizar em setembro um referendo sobre sua independência, a ser realizado não apenas nas três províncias que compõem a região autônoma curda, mas também em territórios conquistados durante a guerra, como a cidade de Kirkuk. Os líderes das UMP dizem que isso não vai acontecer. / TRADUÇÃO DE ALEXANDRE HUBNER © 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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