11 de abril de 2019 | 14h48
LONDRES - Detido nesta quinta-feira, 11, pelas autoridades britânicas depois de o Equador retirar o asilo diplomático concedido em 2012, Julian Assange é um polêmico paladino da transparência, fundador da plataforma online WikiLeaks.
Ele ficou mundialmente conhecido em 2010, quando divulgou milhares de documentos diplomáticos e militares americanos.
O australiano, de 47 anos, passou quase sete anos na embaixada equatoriana, situada no bairro nobre londrino de Knightsbridge. Isso até a polícia de Londres, convidada a entrar na representação diplomática pelo embaixador do Equador, tirá-lo de lá arrastado.
Em 2017, após a eleição de Lenín Moreno à presidência, evento que significou uma reviravolta na diplomacia equatoriana, Assange se tornou um hóspede incômodo para o Equador.
Assange entrou na embaixada em 19 de junho de 2012 para escapar de uma extradição para a Suécia, cujas bases acabaram sendo desconsideradas. Ele permaneceu na missão equatoriana, porém, porque a Justiça britânica continuava a persegui-lo por ter violado os termos de sua liberdade condicional.
Em uma tentativa de tirá-lo do prédio sem problemas, Quito lhe concedeu em janeiro de 2018 a nacionalidade equatoriana e tentou lhe outorgar um status diplomático rejeitado por Londres. O australiano temia, principalmente, ser entregue aos Estados Unidos para ser julgado pela difusão, em 2010, de milhares de documentos militares e diplomáticos.
Quando afirmou, há alguns meses, que pesavam contra ele acusações supostamente secretas nos EUA, foi acusado de paranoia. Seus temores se confirmaram hoje, porém, depois que a polícia britânica anunciou que as autoridades americanas emitiram "uma ordem de extradição" contra Assange.
Nos EUA, ele é acusado de conspiração por ciberpirataria, de acordo com o Departamento de Justiça.
Em abril de 2017, Lenín Moreno foi eleito presidente, dando um giro na diplomacia equatoriana. Assange então se tornou um hóspede incômodo para Quito, que, nesta quinta, retirou-lhe o status de asilado e a nacionalidade equatoriana.
A longa reclusão fez Assange perder protagonismo, até que, em novembro de 2016, ele interferiu nas eleições americanas e, em outubro de 2017, fez o mesmo no processo separatista catalão. Em ambos os casos, o governo equatoriano o lembrou de que não poderia interferir em assuntos de outros países, estando em sua sede diplomática.
Antes disso, porém, sua organização WikiLeaks talvez já tivesse contribuído para a vitória de Donald Trump, ao publicar milhares de mensagens secretas da campanha de sua rival democrata Hillary Clinton. E apoiou os separatistas catalães contra o governo espanhol da época, dirigido por Mariano Rajoy, divulgando imagens da resposta policial ao referendo de independência proibido.
A campanha de Hillary acusou o WikiLeaks de difundir "propaganda russa", mas Assange negou estar a serviço de Moscou: "o WikiLeaks publicou mais de 800 mil documentos relacionados com a Rússia, ou (seu presidente Vladimir) Putin, e a maioria é crítica".
Julian Assange nasceu em 3 de julho de 1971, em Townsville, no estado australiano de Queensland. Sua mãe, a atriz de teatro Christine Ann Assange, separou-se do pai de Julian antes de seu nascimento. Até os 15 anos, o jovem viveu em mais de 30 cidades australianas antes de se estabelecer em Melbourne.
Aluno inteligente, estudou matemática, física e informática na universidade, sem chegar a se formar. Foi, então, seduzido pela ciberpirataria e chegou a entrar nas redes da Nasa e do Pentágono com o pseudônimo de "Mendax". Foi nessa época que nasceu seu filho, Daniel, cuja guarda veio a disputar com a mãe.
Com a notoriedade do WikiLeaks, foi saudado como um gênio da informática e um messias libertário. "É o homem mais perigoso do mundo", diz uma biografia sua.
Rapidamente, vieram as críticas. As autoridades o acusaram de pôr em risco a vida de agentes de inteligência, e alguns velhos amigos e colaboradores o descreveram como "egocêntrico", "obsessivo" e "paranoico".
O cômodo, no qual Assange passou os últimos anos, está dividido em um escritório e uma sala de estar, com uma faixa para fazer exercícios, um banheiro, um micro-ondas e uma lâmpada de luz solar artificial.
A equipe de advogados do australiano, dirigida pelo ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, denunciou as condições de vida impostas na embaixada, alegando que restringem seus "direitos fundamentais". Desde outubro, Assange tinha acesso apenas à internet mediante o wi-fi da missão diplomática, e suas visitas eram estritamente reguladas.
"Condicionam o asilo político de Assange à censura de sua liberdade de opinião, expressão e associação", afirmam os advogados, acusações estas rejeitadas por Quito. / AFP
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