Quem é quem no conflito armado da Colômbia

Além de milhares de homicídios, desaparecimentos e sequestros, conflito causou deslocamento interno

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BOGOTÁ - Com quase meio século de duração, o conflito armado colombiano contribui para que a Colômbia seja considerada pela ONU o quinto país mais violento do mundo. Além dos milhares de homicídios, desaparecimentos e sequestros, o conflito causou o deslocamento interno de quase 4 milhões de pessoas.

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Veja também:link Farc e fiasco em reformas derrubam popularidade de Santos na Colômbialink Sem dinheiro, Farc atacam petrolíferas e mineradoras-ministroA BBC Brasil ouviu especialistas na Colômbia para descobrir quem é quem nesta guerra de quase 50 anos. Ao longo dos anos, alguns componentes deixaram de existir, enquanto outros foram reformulados. Entre os que "desapareceram", está o Movimento 19 de abril (M-19), voltado à guerrilha urbana e iniciado nos anos 1970, que atuou na tomada do Palácio da Justiça em 1985. "Após um acordo, o M-19 deixou as armas em 1989. O mesmo caso é o do Exército Popular de Libertação (EPL), reintegrado nos anos 1990", conta o cientista político Álvaro Villarraga, presidente da Fundação Cultura Democrática. Um caso de reformulação é do das Autodefensas Unidas de Colombia (AUC), que reunia diversos grupos paramilitares regionais de extrema direita para combater o crescimento das guerrilhas insurgentes. Formadas em 1997, as AUC desmobilizaram-se após acordo com o governo de Álvaro Uribe. "Mas algumas facções não deixaram as armas e não se reintegraram. Daí surgiram as Bandas Criminais (Bacrim), também conhecidas como neoparamilitares", explica Villaparra. Farc e ELN As guerrilhas de esquerda começaram a atuar na Colômbia nos anos 1960. A mais antiga e maior são as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Analistas independentes apostam na existência de 10 mil a 15 mil homens, mas para o governo, seriam cerca 8 mil mobilizados. As Farc fortaleceram-se nos anos 1990 graças ao maior poder de autofinaciamento, resultado da associação ao narcotráfico e a uso do sequestro extorsivo (prática que prometeram abandonar em fevereiro deste ano). Após o aumento da ofensiva militar a partir de 2001, as Farc foram enfraquecidas, mas continuam atuantes, financiadas pelo narcotráfico e, recentemente, pela mineração. A segunda guerrilha em atividade é o Exército de Libertação Nacional (ELN). Criado em 1965, o grupo teria atualmente entre 3 mil e 4 mil homens. O ELN "dialogou" com os últimos quatro governos da Colômbia e, segundo analistas, tem agido mais politicamente que militarmente, embora ainda não tenha fechado um acordo de paz. Neoparamilitares ou Bacrim As Bacrim são compostas de vários grupos de ação regional. Atualmente os cinco principais são Los Rastrojos, Los Urabeños, Los Paisas, o Exército Popular Anti-Subversivo da Colômbia (Erpac) e a "Nueva Generación". Os três mais poderosos são Los Rastrojos, com cerca de 2 mil homens, e Los Urabeños e Los Paisas, cada um com aproximadamente mil integrantes. Alguns grupos mantêm a estrutura de milícia uniformizada, e a característica comum entre eles é a associação ao narcotráfico, no controle, regulação, produção e distribuição de drogas. Para alguns analistas, as Bacrim atuam contra as guerrilhas de maneira mais limitada que as AUC e tendem a se tornar delinquentes comuns. Políticos, militares e opinião pública O governo colombiano representa a parte legalmente institucionalizada, que tem como atores os políticos e os militares que executam as ações de combate, conforme as diretrizes dos governos. Ao longo da história, o governo da Colômbia tem assumido diferentes posições com relação ao conflito. O ex-presidente Uribe defendia combater as Farc até sua rendição e, para isso, intensificou a ação militar. Por outro lado, o atual presidente, Juan Manuel Santos, tem demonstrado interesse em buscar uma saída negociada com as Farc, enquanto chama as Bacrim de "grupo subversivo". Com mais de 450 mil homens, o Exército é quem efetivamente participa do combate. Alguns setores mais progressistas das Forças Armadas enxergam uma saída negociada para o conflito, outros acreditam na manutenção da guerra até a rendição dos mobilizados. Na classe política, a extrema direita tende a se posicionar contra saídas negociadas, e os partidos de centro e de esquerda apostam na possibilidade de negociação. A opinião pública também sempre esteve presente na "discussão" de saídas negociadas para o conflito, mas atualmente a alternativa preferida é a ação militar. "Hoje a sociedade prefere a derrota das guerrilhas pela via militar, ainda que no passado tenha estado favorável ao diálogo", avalia Jorge Restrepo, diretor do Centro de Recursos para a Análise do Conflito Armado. "No papel de principal atingida, a sociedade parece ter se cansado de esperar pela conversa entre as partes" completa.

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