Quem era Mohammed Merah, o suspeito dos ataques na França?

Imprensa francesa traça perfil do filho de imigrantes que se radicalizou na prisão.

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Por BBC Brasil
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TOULOUSE - Mohammed Merah, o suspeito de ter sido o atirador que dirigia uma scooter e matou sete pessoas no sul da França, morreu após a polícia ter cercado seu apartamento em Toulouse nesta quinta-feira. Cidadão francês de 23 anos, de origem argelina, ele era há tempos conhecido das autoridades francesas como um pequeno criminoso, mas ultimamente suas ligações com o movimento extremista islâmico chamou a atenção. O homem que teria dito à polícia ser integrante da Al-Qaeda visitou recentemente o Paquistão e o Afeganistão, onde esteve no reduto talebã de Candahar. Acredita-se que ele admitiu ter matado com tiros três soldados franceses desarmados, assim com um rabino e três crianças pequenas de uma escola judaica. Merah teria segurado uma garotinha, Myriam Monsonego, pelos cabelos para disparar em sua cabeça. Segundo autoridades francesas, o único arrependimento que manifestou foi de "não ter feito mais vítimas" e ele se orgulhava de ter "colocado a França de joelhos". Merah dizia ser motivado pela situação dos palestinos, pela presença militar francesa no Afeganistão e pela proibição do véu muçulmano integral na França, segundo disse o promotor de Justiça François Molins. Delinquente Mohammed (seu nome também é escrito Mohamed na imprensa francesa) Merah cresceu em Toulouse, em uma residência pobre no bairro de Lês Izards, que apresenta grande criminalidade e forte presença de imigrantes do norte da África. Depois, ele se mudou para a região mais tranquila de Cote Pavee, no sul da cidade. De uma família de cinco irmãos, ele foi criado principalmente pela mãe divorciada. A revista francesa Le Point diz que ele era mecânico por profissão e adorava scooters. Ele seria também um competente jogador de futebol amador. Merah era considerado um delinquente juvenil. Ainda menor de idade, foi denunciado pelo menos 15 vezes por atos de violência e era descrito como tendo um "perfil violento desde a infância e problemas de comportamento". Preso pela primeira vez em 2005, serviu duas curtas sentenças de prisão, em 2007 e 2009, por roubos e contravenções de trânsito. Em fevereiro, ele foi considerado culpado por dirigir sem licença e deveria aparecer perante um tribunal em abril. No entanto, dois de seus amigos franceses o descreveram ao jornal francês JDD como "um cara legal" e que "se dava bem com todos". Um deles, Samir, disse que Merah foi a uma casa noturna de Toulouse na semana passada. "Servi no Exército, e ele nunca mencionou isso. Estou chocado que ele tenha matado também norte-africanos. Não podemos acreditar", disse o jovem. Mas outras pessoas ajudam a pintar um quadro diferente. Um jovem citado em condição de anonimato pela revista francesa Le Nouvel Observateur que o encontrou em uma rai (casa noturna popular de música árabe) por ocasião do primeiro assassinato o descreveu como um "largado, um vagabundo". "Um solitário. Não era sério... às vezes, tinha cabelo comprido, outras curto. Ou pintava de vermelho", contou. Um ex-soldado francês, amigo da primeira vítima, o sargento Imad Ibn Ziaten, morto no dia 11 de março, foi entrevistado pelo jornal local La Depeche, também em condição de anonimato. Ele teria encontrado Merah no dia 17 de março e o abraçado, como sempre fazia. "No sábado mesmo, ele me disse que eu estava 'falando com um anjo'. Na hora, não entendi", afirmou. O jornal sugere que "anjo" pode ser uma referência às suas crenças em uma guerra santa, ou jihad. 'Al-Qaeda!' Merah teria se radicalizado a alguns anos atrás, quando na prisão, diz o Le Point. A imprensa francesa diz que há dois anos ele forçou um menino a assistir vídeos violentos do Afeganistão. Ele teria espancado a irmã do menino após a intervenção da mãe. Várias testemunhas ouvidas pelo La Depeche em Les Izards afirmam ter visto Merah na frente da casa da família vestido em roupas camufladas, com uma espada na mão e gritando: "Al-Qaeda!, Al-Qaeda!". A própria mãe teria reclamado para a polícia, aparentemente sem resultado, diz o La Depeche. Quando a polícia pediu para a mãe ajudar nas negociações, ela teria se negado, dizendo não ter mais influência sobre seu filho. O advogado francês Christian Etelin, que o defendeu nos últimos anos de acusações não relacionadas com terrorismo, disse à agência AFP que seu cliente nunca transmitiu a sensação de ser um fanático religioso e que os dois nunca conversaram sobre o islamismo. "Mas há dois anos soube que ele tinha se radicalizado após ir ao Afeganistão", disse o advogado. Merah esteve no Paquistão entre agosto e outubro do ano passado. No ano anterior, ele já havia sido parado pela polícia afegã em Candahar, tradicional reduto do Talebã. Entregue para autoridades americanas, foi enviado de volta para a França. A agência de inteligência francesa (DCRI) sabia de suas viagens ao exterior e suspeitava de seu ativismo islâmico. O ministro do Interior francês, Claude Gueant, revelou que autoridades pediram em novembro de 2011 que Merah explicasse suas visitas aos dois países, e o jovem mostrou fotos para provar ser um turista. Gueant defendeu a DCRI afirmando que a agência "monitorou muita gente engajada com o islamismo radical". "Expressar ideias e opiniões salafistas não é o suficiente para que alguém seja processado", completou. Mohammed Merah foi cercado pela polícia dias antes de sua morte. Ele estava armado e resistiu por quase um dia e meio antes de ser morto. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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