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"Quero ser mártir", reage Arafat em seu bunker

Por Agencia Estado
Atualização:

"Desejo ser um mártir, um mártir, um mártir", repetia Yasser Arafat, de 72 anos, às emissora de tevê árabes, pouco depois do início da invasão israelense ao complexo de edifícios da Autoridade Palestina, em Ramallah. "Que Deus me conceda a honra de converter-me em mártir nesta Terra Santa", disse ele. Com sua submetralhadora Uzi ao alcance da mão e cercado por sua guarda pessoal, ele calmamente deu várias entrevistas por telefone celular à imprensa árabe e ocidental enquanto os tanques tomavam posições embaixo de sua janela. As forças israelenses cortaram a eletricidade, destruíram um gerador e bloquearam as linhas telefônicas. Arafat insistiu que não temia por sua vida e preferia morrer a render-se. "Os israelenses me querem preso, no exílio ou morto, mas eu peço a Deus que faça de nós mártires. Não sou melhor do que qualquer jovem palestino na luta por nossa causa, ou que Abu Jihad ou Abu Mustafa", afirmou, recordando dois dirigentes da marxista Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) mortos por Israel. Os palestinos chamam de mártires os militantes que morrem pela causa nacional. Durante a entrevista, transmitida ao vivo pela Al-Jazeera - emissora muito popular no mundo árabe -, Arafat ressaltou que, enquanto falava, muitos de seus homens estavam sendo "feridos pelo fogo israelense" nas dependências adjacentes. O serviço de imprensa da AP distribuiu depois à imprensa uma foto em que Arafat aparece com a arma ao lado, cercado pelos seguranças. Vários celulares estão sobre a mesa. Ele parou de falar ao telefone quando assessores vieram tirá-lo correndo dos aposentos porque os soldados estavam disparando na direção de seu escritório. "Eles estão mirando nele. Sua vida está em perigo. A situação é muito perigosa", disse por telefone o ministro da Informação da AP, Yasser Abed Rabbo. O Exército de Israel negou ter atirado no QG dele. Foi então que o líder palestino foi levado para uma espécie de bunker, um cômodo sem janelas. "Ninguém está tremendo, com medo ou se rendendo", disse Arafat ao correspondente da emissora árabe por satélite Al-Jazeera, com sede no Catar. "Estamos indo para Jerusalém, deixando milhões de mártires pelo caminho." Arafat também manteve intensos contatos telefônicos com líderes árabes, entre os quais os presidentes do Líbano, Emile Lahoud, e do Egito, Hosni Mubarak, bem como o rei do Marrocos, Mohamed. Falou também com o mediador norte-americano, general da reserva Anthony Zinni, o presidente de turno da União Européia (UE), José María Aznar, e o chanceler alemão, Joschka Fischer.

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