Rafsanjani diz que Irã e EUA podem cooperar

Ex-presidente defende aproximação, mas alerta Obama para não cometer erros de Bush; gesto do novo governo dos EUA divide iranianos

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Por THE GUARDIAN e REUTERS
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O Irã está disposto a cooperar com os Estados Unidos se o presidente Barack Obama mudar a abordagem do país em relação ao programa nuclear iraniano, afirmou ontem o ex-presidente do Irã Ali Akbar Rafsanjani, considerado um dos clérigos mais influentes do país. "Nós temos essa expectativa por causa das expectativas que você mesmo (referindo-se a Obama) criou em sua campanha", disse durante sermão transmitido ao vivo pela rádio estatal. Mas Rafsanjani alertou que Obama tem de abrir mão da opção militar. "Se você não o fizer, a história fará de você o mesmo julgamento que fez de Bush", afirmou. O governo de George W. Bush dizia que, ao tratar com o Irã, todas as opções estavam na mesa, incluindo ações militares. Em Davos, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki, também defendeu a possibilidade de conciliação. "Se a nova administração americana mudar suas políticas, não no discurso mas na prática, ela vai encontrar cooperação na região. E o Irã não está excluído do entendimento geral da nossa região", afirmou em um painel do Fórum Econômico Mundial. A abordagem mais conciliatória do novo governo dos EUA, porém, parece estar dividindo a sociedade iraniana. O aiatolá Ahmad Jannati, presidente do influente Conselho dos Guardiães e aliado próximo do presidente Mahmoud Ahmadinejad, reagiu com hostilidade à proposta americana de diálogo. Ele criticou a aproximação do Irã com os EUA e chamou de "baderneiros" e "grupos de ódio" os defensores da ideia. Washington e Teerã não mantêm relações diplomáticas desde o rompimento provocado pela Revolução Islâmica, em 1979. Mas Obama falou várias vezes durante sua campanha e também depois de eleito sobre a possibilidade de retomar diálogos diretos com a república islâmica. Há rumores de que a Casa Branca estaria preparando um carta a ser enviada em breve para Ahmadinejad. O principal motivo de disputa entre os países é o programa nuclear iraniano. Teerã garante que a finalidade de sua tecnologia é apenas a produção de energia. Potências do Ocidente, encabeçadas pelos EUA, dizem que o país tenta desenvolver armas nucleares e exigem a paralisação do enriquecimento de urânio no Irã. Na próxima semana, representantes dos EUA, Rússia, Grã-Bretanha, França Alemanha e China vão se reunir para discutir sobre uma solução para o impasse.

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