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Corrupção ameaça premiê da Espanha

Após condenação de membros do Partido Popular, de Mariano Rajoy, oposição e aliados pressionam governo espanhol a antecipar eleições

Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

MADRI - O governo do primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, está próximo da queda. A sentença foi imposta nesta sexta-feira pelo líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Pedro Sánchez, que anunciou a apresentação de um voto de censura no Parlamento. 

Primeiro-ministro da Espanha durante cúpula de líderes da União Europeia em Bruxelas, na Bélgica. Foto: Bloomberg / Dario Pignatelli

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A iniciativa foi tomada após altos executivos da legenda do premiê, o Partido Popular (PP, direita), terem sido condenados em meio a um escândalo de corrupção de financiamento eleitoral e mensalão de empreiteiras a políticos. A moção não terá apoio do Ciudadanos, mas o partido centrista quer eleição antecipada. 

Salvo sobressalto político, a situação é irreversível para Rajoy, pois PSOE e Ciudadanos eram os dois fiadores de seu governo, cuja bancada é minoritária no Legislativo. Se o voto for aceito, Sánchez assume um governo provisório até a realização de novas eleições, em data ainda a ser definida.

Essa, ao menos, é a intenção do líder socialista, que pretende “recuperar a dignidade da democracia e livrar o país do “romance noir de corrupção” do governo de Rajoy, sustentado por “um partido corrompido”. “Queremos recuperar a normalidade institucional, regenerar a política espanhola, atender às urgências sociais e convocar eleições”, anunciou.

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Questionado sobre a data em que as eleições antecipadas seriam realizadas, Sánchez desconversou. “O quanto antes, mas previamente teremos de recuperar a estabilidade e a normalidade institucional.”

O argumento não foi bem aceito por aquele que é hoje, segundo pesquisas de opinião, o líder das intenções de voto. Albert Rivera, líder do Ciudadanos, disse considerar a tentativa do PSOE como “oportunismo dos socialistas, decididos a chegar ao poder a qualquer custo”.

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Ainda que se oponha à estratégia dos socialistas, Rivera também deu sinais a Rajoy de que a hora de abandonar o poder chegou. O centrista propõe que Sánchez retire o voto de censura e, juntos, a oposição exija a convocação de eleições gerais.

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Por ora, o PSOE segue sua estratégia. Com 84 deputados, o partido está longe da maioria simples, de 176, em um Parlamento com 350 deputados. Mas, apoiado por partidos nanicos e, sobretudo, pelo partido de esquerda radical Podemos, Sánchez teria possibilidades de reunir o número de votos necessários para derrubar Rajoy sem precisar do apoio do Ciudadanos. Para tanto, precisará do apoio de partidos separatistas da Catalunha – o que exigirá negociações sobre o estatuto catalão.

Inconformado com a ameaça de perda do poder, Rajoy criticou Sánchez afirmando que a moção de censura “vai contra a estabilidade, prejudica a recuperação econômica”. Seu partido, entretanto, foi muito abalado pelos anos de poder e, em especial, pelos escândalos de corrupção.

Nesta semana a Audiência Nacional, espécie de STF espanhol, condenou o partido e 29 de seus membros a um total de 351 anos de prisão no chamado “Caso Gürtel”, que envolve crimes de corrupção, fraudes, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e desvio de recursos públicos.

O esquema foi desvelado pela prisão do tesoureiro do partido, Luis Bárcenas, cujos arquivos mostravam um esquema de remuneração de altos membros da legenda por empreiteiras que são escolhidas na maior parte das obras públicas do país.

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Rajoy em pessoa foi envolvido à medida em que mensagens de celular e de e-mail mostravam sua solidariedade com o tesoureiro. A mais célebre delas dizia “Luis, seja forte”. O amigo do premiê foi condenado a 33 anos de prisão e a € 44 milhões em multas por ter organizado um sistema de caixa 2 no partido. A legenda também foi condenada a reembolsar € 250 mil por financiamento ilegal de campanha. O esquema vigorou entre 1999 e 2005, mas atingiu Rajoy porque vários de seus assessores e o próprio premiê são acusados de terem se beneficiado dele, assim como seu antecessor conservador, José María Aznar.

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A perspectiva de novas eleições vem no pior período do governo do PP e de Rajoy. O partido vem caindo nas pesquisas de opinião, com o pior desempenho de sua história, na casa dos 20% de apoio. A decisão sobre o futuro de Rajoy deve acontecer em 11 de junho.

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