MADRI - O governo espanhol anunciou que avançará nos trâmites para uma intervenção na autonomia da Catalunha, depois que seu governador, Carles Puigdemont, advertiu que o Parlamento regional pode votar a independência unilateral se seu pedido por diálogo não for atendido.
+ A carta do líder catalão e a resposta do governo de Madri
Conheça abaixo os dois protagonistas da pior crise política na Espanha em décadas.
+ Para entender: A Constituição espanhola e o Artigo 155
Mariano Rajoy
O líder do conservador Partido Popular (PP), de 62 anos, é primeiro-ministro da Espanha desde dezembro de 2011. Após as legislativas de 2016, governa em minoria com o apoio do partido liberal Ciudadanos, surgido na Catalunha para lutar contra o separatismo. O PP é apenas a quinta força política na Catalunha, onde obteve 13% dos votos nas últimas eleições regionais em 2015 e tem apenas uma prefeitura.
Rajoy lutou contra o novo estatuto de autonomia da Catalunha aprovado em 2016, que dava mais competências à região, além de elevá-la ao nível "nação". Com base em um recurso apresentado por seu partido, o Tribunal Constitucional o anulou parcialmente, deflagrando a ira de muitos catalães.
Seus críticos o acusam de ter deixado a questão catalã crescer e de ter, com isso, contribuído para que a causa separatista ganhasse força. Rajoy insiste que não pode negociar a celebração de um plebiscito na região, alegando que é incompatível com a Constituição.
Nesta quinta-feira, 19, seu governo anunciou que um conselho de ministros enviará no sábado, para aprovação do Senado, as medidas a serem adotadas sob o Artigo 155 da Constituição, o que permitirá a intervenção na administração catalã.
Carles Puigdemont
Ex-jornalista de 54 anos, o governador catalão milita pela independência desde a juventude. Chegou à liderança da região no começo de 2016, quando a CUP, partido de extrema esquerda de cujo apoio precisa na Câmara regional, exigiu a partida de seu antecessor Artur Mas, a quem culpava pelas políticas de austeridade aplicadas durante a crise.
Puigdemont não deu sinais de ter desistido de declarar a independência, apesar das pressões de empresas e do Estado espanhol. Atualmente, é alvo de uma investigação por "desobediência", "prevaricação" e "desvio de recursos públicos" pela organização do plebiscito.
Em uma sessão confusa do Parlamento catalão no dia 10 de outubro, ele disse que assumiria "o mandato de que a Catalunha se tornasse um Estado independente na forma de uma república", mas pediu a suspensão dos "efeitos da declaração de independência".
Nesta quinta-feira, em uma carta a Rajoy, Puigdemont disse que o Parlamento catalão não votou a declaração de independência, mas alertou que, se o governo central ignorar seu pedido de diálogo e não interromper a "repressão", irá votar. / AFP