Raúl Castro promete reformas e abrir Cuba para investimentos estrangeiros

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Por Efe , AP , Reuters , Camagüey e Cuba
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Às vésperas de completar seu primeiro aniversário no cargo, o presidente em exercício de Cuba, Raúl Castro, irmão mais novo do líder Fidel Castro, fez ontem um discurso surpreendente no qual reconheceu erros, prometeu "mudanças estruturais" na economia da ilha e ofereceu diálogo aos EUA. "Temos o dever de questionar o que fazemos para fazer cada vez melhor; para transformar concepções e métodos que eram apropriados em certo momento, mas foram superados pela própria vida", disse Raúl, aplaudido por 100 mil pessoas. O discurso foi feito em Camagüey, a 535 quilômetros de Havana, durante a festa dos 54 anos do fracassado assalto ao quartel Moncada, que firmou as bases do movimento revolucionário que derrubou o ditador Fulgêncio Batista, em 1959. A data, conhecida como Dia da Rebeldia, é a principal do calendário cubano e, pela primeira vez em 48 anos, foi comemorada sem Fidel - que se recupera de uma grave doença no intestino. Há exatamente um ano, o líder cubano, hoje com 80 anos, falou em público pela última vez antes de entregar o poder provisoriamente a seu irmão para se submeter a uma cirurgia de urgência. Após dizer que Cuba ainda não superou o "período especial", no qual a sua economia deixou de receber a ajuda soviética, Raúl propôs abrir a ilha para os investimentos estrangeiros ("de empresários sérios e preservando o papel do Estado") e fazer alterações para elevar a produtividade em alguns setores. "Os salários (dos cubanos) são claramente insuficientes para satisfazer todas as suas necessidades e por isso deixaram de cumprir o princípio socialista de que cada um deve contribuir segundo sua capacidade e receber segundo seu trabalho", afirmou, após admitir um déficit na produção de alimentos. O diálogo com os EUA, segundo Raúl, poderia ser restabelecido após fim do mandato do presidente George W. Bush, em 2008. "A nova administração americana terá de decidir se mantém a absurda, ilegal e fracassada política contra Cuba ou se aceita o ramo de oliveira que estamos lhe estendendo", disse Raúl. "Se ela deixar de lado a prepotência e decidir conversar de modo civilizado, será bem-vinda." Raúl, de 76 anos, assumiu a liderança do Estado cubano no dia 31 de julho sem deixar seu posto de chefe das Forças Armadas Revolucionárias. Ele esteve ao lado do irmão na guerrilha que derrubou Batista, porém há alguns anos é visto como mais moderado que Fidel - principalmente (mas não só) no que diz respeito a questões econômicas. A oferta para retomar as relações com os EUA, por exemplo, já havia sido feita em outras duas ocasiões no último ano. O discurso de ontem pode ser um indicativo de que Raúl começará a fazer reformas mais significativas nas políticas interna e externa cubanas. "No último ano foram necessários alguns ajustes e não descartamos (a possibilidade de) que seja preciso fazer outros no futuro", disse. Fidel diz que está acompanhando e participando de todas as decisões do governo da ilha - e de fato tem publicado no jornal oficial Granma artigos sobre os temas mais diversos. No entanto, o fato de ele ter evitado uma aparição pública até agora mantém no ar dúvidas sobre sua recuperação.

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