Reação ao Nobel da Paz ilustra polarização de colombianos

Nas ruas de Bogotá, muitos ironizaram a concessão do prêmio a Santos, mas outros dizem que foi merecido

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Por Redação
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BOGOTÁ - Rodolfo Oviedo riu ironicamente quando lhe perguntaram se acreditava que o presidente Juan Manuel Santos mereceu ter recebido o Nobel da Paz. O prêmio foi recebido sem muita festa em uma Colômbia polarizada após a rejeição ao acordo com a guerrilha Farc.

“Santos não o merece porque começou mal, a paz se faz no campo, com os deslocados”, disse o camponês de 40 anos, que teve de se mudar para Bogotá pela violência das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), com a qual o governo fechou um acordo de paz que não foi aprovado no plebiscito do dia 2.

Em Bogotá, acordo de paz foi recebido com festa Foto: AFP / GUILLERMO LEGARIA

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Em 2004, Oviedo foi obrigado pelos membros das Farc a abandonar sua terra em Planadas, o mesmo município do centro da Colômbia onde em 1964 esta guerrilha pegou em armas contra o Estado após uma sublevação camponesa.

“Expulsaram-me porque não quis ser cúmplice deles”, acrescentou Oviedo indignado, enquanto caminhava com suas muletas em razão de uma deficiência na perna direita.

Há um mês e cinco dias, vive e dorme na Praça de Bolívar, a alguns passos da Casa de Nariño, com a esperança de que as autoridade escutem suas reclamações como um dos 6,9 milhões que foram forçados a abandonar suas terras em razão do confronto interno de mais de meio século. Cobre seus poucos pertences dos curiosos e da chuva com um grosso plástico transparente. Afirma que suporta o frio, sede, fome e necessidades, mas o que mais lhe dói é ser “ignorado”.

Como Oviedo, muitos colombianos sentem que Santos, que negociou durante quase quatro anos em Cuba um acordo com as Farc, não é digno do Nobel da Paz, pela primeira vez concedido a um colombiano.

“Não concordo (com o Nobel para Santos) pela questão da guerrilha: matam famílias e antes as faziam se ajoelharem”, disse José Alberto Soriano, um vendedor ambulante de 18 anos, cujo avô foi assassinado pelas Farc 25 anos atrás no conturbado Departamento (Estado) de Meta. Mas Soriano reconhece que o prêmio é “um êxito” para o chefe de Estado.

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Outros, como Janna Aldana, assinalam que muitos outros antes de Santos lutaram pelo fim da guerra na Colômbia. “Deveriam ter dado o prêmio a muitas pessoas que contribuíram com um grão de areia para a paz”, disse a trabalhadora autônoma de 35 anos.

Alguns que comemoram o Nobel destacam mais as falhas que os feitos de Santos, um político de 65 anos, com aprovação entre os colombianos de 29%, segundo dados de agosto do instituto Gallup.

“Com relação ao seu governo, tem muitas falhas. Faltam muitas coisas na Colômbia, mas o Nobel me parece genial, ele merece”, disse a auxiliar administrativa Liliana Lenes.

As reações da população ao Prêmio Nobel evidenciam a polarização na Colômbia, após o “não” ao acordo de paz sair vitorioso no plebiscito por 53.800 votos, semeando dúvidas sobre o fim do conflito. / AFP