ISTAMBUL Ahmed Hwedi chegou à idade militar. Aos 18 anos, o líbio considera-se um soldado. Mas como faz questão de dizer, em vez de farda prefere vestir-se com a bandeira da época da monarquia, usada pelo grupo rebelde que combate as forças leais ao governo de Muamar Kadafi e está ligado ao Conselho Nacional de Transição (CNT) da Líbia. A missão de Ahmed é simples, mas importante: deve divulgar "a causa" por onde passa fora de seu país. "O primeiro passo do grupo foi derrubar a ditadura e assumir o controle", afirma o jovem, de aparência intelectualizada, que não pronuncia o nome do ditador. "Agora precisamos de reconhecimento, não só o oficial de outros governos, mas o dos cidadãos comuns. Buscamos legitimidade. Por isso alguns, como eu, deixam o país."O jovem líbio falou ao Estado quando passava por Istambul, na Turquia. Chegou com alguns parentes à cidade turca no fim de semana, de barco, uma vez que o aeroporto de Trípoli estava fechado. "O tempo da viagem e o números de lugares que visitaremos vai depender da quantidade de dinheiro que tivermos para custeá-la", explicou. "No momento, vamos ficar por aqui (Istambul) mais uma semana. Quero aproveitar para falar com o maior número possível de pessoas para despertá-las para o que ocorre em meu país."A família Hwedi considera-se pobre. Fica, então, a questão: como bancam a passagem por Istambul? A resposta passa por uma espécie de ironia do destino. "Quando nosso grupo tomou o poder, conseguimos resgatar muito do patrimônio do povo líbio nas propriedades do ditador (Kadafi)", explica o jovem. Sim, parte do dinheiro é proveniente dos saques que os rebeldes fizeram na casa de Kadafi e seus parentes. "Não roubamos nada, apenas resgatamos parte de tudo que o povo líbio perdeu nos últimos 40 anos. Ainda há muito o que resgatar."Ahmed conta que não é o único encarregado de iniciar essa espécie de marketing político internacional do CNT. Pelo menos dois conhecidos dele também saíram da Líbia com o mesmo propósito nas últimas semanas. "Não sei para onde foram. Creio que eles também não sabem do meu destino. Dizem que é um assunto de segurança interna, pois a seleção das pessoas obedece critérios muito rígidos. Eles querem porta-vozes na causa e não gente que aproveite a situação para migrar e nunca mais voltar para o país", diz.Outro detalhe que chama atenção na situação de Ahmed é o fato de parte de sua família acompanhá-lo. Explica que a presença deles não foi uma exigência sua, mas uma determinação do grupo comandado por Mustafá Abdel Jalil, atual líder do CNT. Depois de relutar alguns momentos, Ahmed mostra que a defesa da "causa" não o cegou para alguns problemas constatados no comportamento de alguns integrantes do grupo rebelde. "Sabemos que muitos dos nossos exageraram e têm usado esse momento importante de nossa história para fazer vingança. Isso mostra despreparo para comandar", alerta.