Rebeldes sírios dizem ter capturado espiões do Irã

Grupo que sequestrou 48 peregrinos iranianos no sábado perto de Damasco garante que há membros da Guarda Revolucionária entre eles

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Por BEIRUTE e / NYT
Atualização:

Um grupo de rebeldes sírios exibiu ontem iranianos que sequestrou em Damasco, no sábado, e disse que os manterá como reféns porque parte deles pertence à Guarda Revolucionária iraniana e espionava as posições insurgentes na capital. Segundo os rebeldes, eles não seriam peregrinos religiosos, como a agência de notícias do Irã divulgou. "São assassinos iranianos que realizavam em Damasco uma missão de reconhecimento do campo", disse um líder rebelde em um vídeo apresentado na rede Al-Arabiya, da Arábia Saudita, que apoia a causa rebelde. No vídeo, os insurgentes mostram os prisioneiros, sentados calmamente atrás de combatentes sírios armados, além de documentos de identidade e licenças de porte de armas iranianos que, supostamente, comprovariam que os reféns não são peregrinos religiosos. Os documentos e os motivos dos reféns não puderam ser verificados por fontes independentes e alguns grupos rebeldes não aceitaram o sequestro ou a teoria apresentada pelos combatentes no vídeo. O coronel Malik al-Kurdi, vice-comandante do Exército Sírio Livre (ESL) - um dos envolvidos no confronto - disse que a brigada que assumiu a responsabilidade pelo sequestro aparentemente age por conta própria e não informou ao ESL a operação. Autoridades iranianas afirmaram que os iranianos sequestrados são peregrinos e negaram que se tratasse de membros da Guarda Revolucionária. O ministro do Exterior do Irã, Ali Akbar Salehi, contactou no sábado as chancelarias síria e turca, e pediu que garantissem a libertação dos 48 iranianos. Num comunicado, a embaixada do Irã em Damasco disse que os iranianos sequestrados viajaram para a Síria com uma companhia de turismo "privada" para uma peregrinação ao santuário xiita de Sayyida Zeinab, nos arredores de Damasco, a cerca de 3 quilômetros do local onde há violentos combates no bairro de Tadamon. Embora o vídeo com os iranianos sequestrados mostrasse somente homens, a imprensa oficial do Irã afirmou que no grupo aprisionado pelos rebeldes há também mulheres e crianças. Para os rebeldes, os reféns representam a oportunidade de divulgar sua convicção de que o governo do presidente Bashar Assad está prestes a cair e o Irã, bem como outros patrocinadores estrangeiros do regime devem reconsiderar sua fidelidade a essa aliança. No vídeo, os combatentes reiteraram que o governo de Assad tem "vida curta". Os rebeldes advertiram também que os iranianos que ajudam o governo de Assad terão o mesmo destino: acabarão "mortos ou serão feitos reféns". Diplomacia. Autoridades americanas informaram que a secretária de Estado Hillary Clinton irá a Istambul no próximo fim de semana para discutir a crise síria com o governo turco. Abdelbasset Seida, do Conselho Nacional Sírio, líder do principal grupo de oposição, anunciou que negociará com autoridades do governo cujas mãos não estão "manchadas de sangue", depois que o presidente Assad e seu governo deixarem o poder. Seus comentários apareceram numa entrevista publicada ontem no Asharq al-Awast, um jornal pan-árabe, menos de uma semana depois que o enviado especial da ONU e da Liga Árabe na Síria, Kofi Annan, desistiu de sua função por não ter havido nenhum progresso diplomático. Os ativistas em Damasco afirmaram que o bairro de Tadamon, perto do maior campo palestino do país, continua sob ataque. A agência oficial de notícias síria informou no Twitter que a área foi expurgada de "terroristas". Ativistas acrescentaram que os corpos de combatentes rebeldes e algumas mulheres e crianças estavam espalhados por toda a área, mas não podiam ser retirados porque o Exército sírio tinha atiradores com a ordem de disparar contra quem tentasse se aproximar. Rebeldes e militantes informaram que está havendo incursões em Homs e em Alepo, a maior cidade da Síria, que se tornou o foco principal do conflito desde que a eclosão dos combates, há duas semanas, e está cercada por 20 mil soldados leais a Assad.

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