Rebelião árabe põe Washington e Riad em lados opostos

Na Jordânia, EUA tentam convencer rei a dialogar com oposição, enquanto Arábia Saudita investe para manter autocracia

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Por Paul Richter , Neela Banerjee e do Los Angeles Times
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Diplomatas americanos têm visitado o palácio real em Amã praticamente todas as semanas, com o objetivo de convencer o rei Abdullah, da Jordânia, de que uma reforma democrática é a melhor maneira de responder aos protestos contra seu governo. Mas um outro aliado poderoso também vem pressionando o rei jordaniano - e quer que ele ignore os americanos. A Arábia Saudita tem recomendado ao reino hachemita respeito às tradições autocráticas que há séculos mantêm segura a monarquia dos Saud. E Riad vem empilhando presentes na porta do rei Abdullah para convencê-lo disso. No mês passado, os sauditas ofereceram à Jordânia a cobiçada oportunidade de se juntar ao milionário bloco regional, o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), que deve proporcionar ao reino empobrecido novos investimentos, empregos e segurança. Para agradar ainda mais o monarca, os sauditas assinaram um cheque de US$ 400 milhões em ajuda a Amã, há duas semanas, sua primeira oferta de assistência em anos. Essa silenciosa disputa pela Jordânia é um indicativo da rivalidade que irrompeu este ano entre Arábia Saudita e EUA, antigos aliados que acabaram entrando em rota de colisão por causa das revoltas populares que se espalharam pelo Oriente Médio. "Há muito atrito por lá", disse uma autoridade americana. "A Primavera Árabe provocou tensão no relacionamento". A Casa Branca tem apoiado os protestos e insistido para os governos da região dividirem mais o poder. Mas, quando o presidente americano demandou reformas nos regimes árabes, num importante discurso no mês passado, cuidadosamente evitou mencionar a Arábia Saudita, monarquia absoluta que permite pouco - ou nenhum - dissenso. Riad, que acha que os EUA estão dando as costas para fiéis aliados, tenta sair da sombra de Washington. E vem adotando uma política externa que muitas vezes diverge daquela adotada pela Casa Branca - e de vez em quando procura sabotar os EUA. Em assuntos-chave, "o governo Obama realmente não ouve as opiniões sauditas", disse Abdullah Askar, vice-presidente da Comissão de Assuntos Externos do Conselho Consultivo saudita, o Majlis Shura, em Riad. Essa mudança não significa um fim da aliança que une os dois países há 70 anos e cuja base é a troca de petróleo saudita por proteção militar americana. Mas sugere uma redução da influência de Washington no Oriente Médio, num momento em que outras relações cruciais - com Egito e Turquia, por exemplo - enfrentam novas tensões. Os sauditas, que veem sua própria estabilidade ameaçada pelos distúrbios na região, deram bilhões de dólares para Egito, Jordânia, Bahrein e outros lugares, na esperança de que resistam às mudanças políticas. A Arábia Saudita vem ampliando e fortalecendo seus laços com monarquias sunitas, traçando um novo caminho em assuntos envolvendo árabes e israelenses em sua campanha para frear o Irã. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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