Receio de segunda onda obriga Nova York a adotar novas medidas contra a covid-19

Autoridades de saúde pública determinaram o fechamento de escolas e comércios não essenciais nos bairros de Brooklyn e Queens, onde o aumento de infecções e taxas de testes positivos dispararam sinais de alarme

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Por J. David Goodman
Atualização:

NOVA YORK - A cidade de Nova York está enfrentando a maior ameaça de ressurgimento do coronavírus desde que a pandemia devastou a cidade no primeiro semestre, com temores crescentes de que uma segunda onda de infecções tenha começado. Autoridades de saúde pública municipais e estaduais implementaram o fechamento de escolas e comércios não essenciais nos bairros de Brooklyn e Queens, onde o aumento de infecções e taxas de testes positivos dispararam sinais de alarme.

As regiões registraram taxas de positividade – uma métrica-chave usada pelas autoridades para determinar fechamentos e reaberturas – superiores a 3% por mais de uma semana, em bairros como South Brooklyn, que tem grandes populações de judeus ortodoxos em torno de Borough Park e Midwood, e Queens, em torno dos Kew Gardens. Várias outras áreas chegaram perto do limite, entre eles Williamsburg, no Brooklyn.

Prefeito de Nova York, Bill de Blasio, cumprimentauma estudante no bairro de Queens, em setembro Foto: Todd Heisler/New York Times

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A capacidade de desacelerar esse aumento é essencial para manter o comércio e as escolas abertas, na tentativa de conter a crise econômica que ameaça devastar ainda mais a cidade.

A segunda onda já chegou?

Ainda é difícil saber, disseram os epidemiologistas, mas, até agora, os dados não mostram uma difusão muito ampla. “Não temos evidências, neste momento, de uma segunda onda generalizada”, disse a Dra. Wafaa El-Sadr, professora de epidemiologia da Universidade de Columbia.

Mas há sinais de problemas o horizonte. Os dados recentes da cidade mostram que a taxa de testes positivos passou de meses de declínio constante para semanas de aumentos constantes.

A média da taxa de testes positivos da cidade em sete dias variou de 1,56 para 1,75% esta semana, subindo de 0,9% em 4 de setembro, de acordo com dados da cidade. Mas o que preocupa as autoridades são os casos crescentes no Brooklyn e no Queens. As áreas do Borough Park, no Brooklyn, por exemplo, têm apresentado taxas de positividade diária consistentemente superiores a 8%. Em Gravesend, no Brooklyn, a taxa passou de 7%.

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Autoridades estaduais e municipais atribuíram essas taxas crescentes sobretudo a reuniões religiosas em comunidades com grandes populações de judeus ortodoxos. Mas os bairros sem forte afiliação religiosa também registraram aumento nas taxas. Os bairros de Fort Greene, Bedford-Stuyvesant e Clinton Hill, no Brooklyn, vêm apresentando taxas crescentes de positividade há mais de uma semana e estão sendo monitorados pelas autoridades.

O Hospital Mount Sinai, no Upper East Side de Manhattan, observou um recente aumento de casos de coronavírus: de 3 em agosto para 47 na segunda-feira, disse Dr. David L. Reich, presidente do sistema hospitalar do Mount Sinai. Muitos pacientes vinham de comunidades judaicas ortodoxas na cidade de Nova York e nos condados de Rockland e Orange, subúrbios ao norte que também são focos da doença.

As taxas de positividade nos dirão quando uma segunda onda chegará?

Não exatamente. Epidemiologistas e autoridades de saúde pública disseram que o aumento nas taxas de testes positivos mostrou principalmente a necessidade de mais testes. Este seria o primeiro passo para o rastreamento de contatos e a investigação dos casos, que são as melhores maneiras de entender a extensão de qualquer surto e prevenir uma propagação posterior.

Uma pessoa com máscara anda pela área do metrô de Nova York. Foto: Chang W. Lee/New York Times

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Mas a cidade não pode obrigar as pessoas a fazer testes. Muitas pessoas fazem o teste apenas quando estão se sentindo mal, o que pode distorcer drasticamente as taxas. Uma taxa de positividade de 1% na cidade não significa que 1 em cada 100 nova-iorquinos seja portador do coronavírus. Significa que 1% das pessoas que estão fazendo o teste deram positivo.

“Não é como se estivéssemos fazendo essas grandes amostras aleatórias todos os dias”, disse o Dr. Irwin Redlener, diretor da Iniciativa Pandêmica da Universidade de Columbia.

Além disso, cada vez mais as pessoas estão sendo testadas porque suas empresas ou universidades assim o exigem. A lei estadual exige que todos os funcionários de lares de idosos sejam testados uma vez por semana. Existem cerca de 140 mil desses trabalhadores, e o estado realiza cerca de 640 mil testes por semana, disse Gareth Rhodes, conselheiro do governador.

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Isso significa que uma parte significativa dos testes – até 1/5 – provavelmente consiste em testes repetidos de trabalhadores de asilos. (Esses testes também foram úteis, disse Rhodes, detectando 17 mil casos desde o início da exigência, em maio).

“Sempre estremeço quando ouço as pessoas falarem sobre taxas de testes positivos”, disse a Dra. Jennifer Nuzzo, epidemiologista e professora da Escola de Saúde Pública da Johns Hopkins Bloomberg. “Quando os líderes políticos falam sobre positividade, quase sempre falam em termos inadequados”.

Quais números são mais confiáveis: da cidade ou do Estado?

Na maioria dos dias, o prefeito Bill de Blasio publica o número de novas infecções e a taxa de positividade diária para a cidade de Nova York numa entrevista coletiva. Muitas vezes, logo depois, o governador Andrew Cuomo dá sua própria coletiva de imprensa, onde mostra os números em slides que ficaram famosos nas redes sociais.

Mas os números que os dois mostram quase sempre são diferentes. Os dados diários do Estado são, na maior parte, simplesmente os resultados recebidos nas últimas 24 horas. É por isso que o estado pode compartilhar seus dados tão rapidamente.

Moradores da vizinhança de Queens jogam partida tradicional de bingo. Foto: Todd Heisler/New York Times

O departamento de saúde da cidade pega os resultados recebidos todos os dias e os compara com as datas em que as amostras das pessoas foram coletadas. Por exemplo, se uma pessoa fez o teste numa quarta-feira e o resultado veio numa sexta-feira, a cidade ainda registraria esse resultado nas estatísticas de quarta-feira. O estado o registraria nas estatísticas de sexta-feira.

“Gostamos de usar esses dados porque são mais relevantes do ponto de vista epidemiológico”, disse a Dra. Corinne Thompson, epidemiologista do departamento de saúde da cidade.

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Como saberemos quando uma segunda onda chegou?

Um aumento nos casos por dia já seria algo a se observar, disse Nuzzo, da Johns Hopkins. Outra métrica que os especialistas em saúde pública observam são as hospitalizações. Esses números também vêm aumentando em Nova York. 

“Dos novos casos que você está encontrando, qual porcentagem deles vem de contatos conhecidos?”, disse Nuzzo, referindo-se à frequência com que novos casos são descobertos por causa de sua conexão com uma pessoa infectada conhecida.

“Se estivéssemos fazendo um bom trabalho no rastreamento de contatos, esse número estaria crescendo”. Atualmente, nem o Estado nem a cidade informam regularmente esse número. “Nenhum número diz tudo o que você precisa saber” Nuzzo. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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