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Rede espionou mais de 100 mil na Itália

O governo emitiu um decreto que estabelece penas pela utilização de informações resultantes de escutas ilegais

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma rede de escutas clandestinas que espionou mais de 100 mil pessoas na Itália - incluindo políticos, empresários, artistas e jogadores de futebol - foi desmantelada na quarta-feira com a prisão de seus supostos criadores: o ex-responsável pelo sistema de segurança da operadora Telecom Italia Giuliano Tavaroli e o dono de um escritório de investigações particulares de Florença Emanuele Cipriani. Outras 18 pessoas, entre as quais 11 policiais, também foram presas por envolvimento no caso. Segundo as apurações da polícia italiana, a rede existia desde 1997 e tinha ramificações nos serviços secretos italianos. Entre as personalidades que foram vítimas da rede de escuta estão os empresários Giuliano e Luciano Benetton, Carlo de Benedetti, Diego della Valle (dono de uma indústria de calçados e do time de futebol Fiorentina), o jogador do clube Atalanta Vieri e a eurodeputada Alessandra Mussolini, neta de Benito Mussolini. A descoberta da rede se dá poucos dias depois da demissão do presidente da Telecom Italia Marco Tronchetti Provera, após uma discussão pública com o primeiro-ministro italiano, Romano Prodi - que acusou Tronchetti de mentir por não ter informado o governo de negociações para a venda da TIM, a divisão de celulares da empresa, com grupos estrangeiros. Prodi também tem acenado com a possibilidade de re-nacionalizar a divisão de telefonia fixa da Telecom. Tronchetti Provera não foi submetido a nenhuma investigação sobre o caso das escutas, mas os jornais italianos recordavam hoje que Tavaroli era seu principal assessor na empresa. "É possível que um sistema tão sofisticado pudesse nascer e se manter sem que os mais altos executivos da Telecom Italia soubessem", perguntava hoje um dos mais conhecidos jornalistas investigativos da Itália, Marco Travaglio. Segundo as investigações da Promotoria de Milão, as escutas se destinavam inicialmente a monitorar chamadas de funcionários da Telecom e da Pirelli, da qual Tronchetti Provera era, e continua sendo, presidente. Com o tempo, a rede se converteu em "um instrumento evidente de pressão, intimidação, ameaça e extorsão concentrada nas mãos de um pequeno grupo de pessoas", segundo definiu a promotoria nas ordens de prisão. Os investigadores apuram agora se a morte do ex-responsável pelos sistemas de segurança da Telecom, Adamo Bove - que supostamente caiu de um viaduto em Nápoles, em 21 de julho -, está ligada à rede de escutas. Antes de morrer, Bove tinha sido convocado para prestar depoimentos ante à promotoria napolitana, que já investigava o caso. Outro envolvido no caso é o ex-número 2 do serviço de inteligência militar italiano Marco Mancini, que forneceu à CIA, a agência de inteligência americana, dados confidenciais que permitiram a captura do líder muçulmano radical Abu Omar, supostamente envolvido nos atentados contra trens de Madri, em 11 de março de 2004. Nesta sexta-feira, o governo italiano emitiu um decreto que estabelece penas pela utilização de informações resultantes de escutas ilegais.

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