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Refugiados afegãos têm prazo para sair do Paquistão

Os refugiados estão sem acesso a condições sanitárias adequadas

Por Agencia Estado
Atualização:

Milhares de refugiados afegãos expulsos pelo Paquistão, que estabeleceu um prazo até o fim do mês de abril para que eles deixem o país, continuam em Peshawar, sem acesso a condições sanitárias adequadas e esperando os trâmites burocráticos e a ajuda do Acnur para voltar ao seu país natal. As famílias sofrem com o calor crescente em Peshawar, capital da província da Fronteira Noroeste (NWFP). Centenas de caminhões, fretados pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), estão estacionados à espera da autorização para repatriar os afegãos. O regime do general Pervez Musharraf decidiu no ano passado obrigar os milhões de afegãos, alguns vivendo no Paquistão há décadas, a se registrarem ou deixarem o país. Seu argumento é de que muitos campos de refugiados abrigam insurgentes talibãs. Assim, 2,15 milhões de pessoas optaram por "legalizar" sua situação e receberam uma "prova de registro" que permite ficar no Paquistão até o fim de 2009. Mas um número ainda incerto recusou o trâmite e deve voltar para casa ou enfrentar a perseguição a imigrantes ilegais. Segundo a embaixada do Afeganistão em Islamabad, cerca de 400 mil refugiados não se registraram. Representantes da comunidade afegã afirmam que só na província sudeste de Sindh havia 500 mil, dos quais apenas 52 mil optaram pelo registro legal. A maioria dos refugiados se abriga na NWFP e no Baluchistão, províncias fronteiriças com o Afeganistão. Foi onde a Acnur concentrou seus esforços, numa campanha com panfletos e anúncios na imprensa e na televisão, oferecendo ajuda para repatriação voluntária. A Acnur admite que seu programa de repatriação e a pressão do regime paquistanês afetaram os refugiados. No fim de março, o número de candidatos a registro saltou de algumas centenas por dia para dezenas de milhares. Também ajudou o aumento de US$ 30 para US$ 100 na ajuda de custo oferecida aos afegãos que aceitarem o programa de repatriação, segundo uma fonte do Acnur. No entanto, a lentidão do processo desespera os refugiados, que se queixam do Acnur. "Temos que pagar milhares de rupias para voltar para nossa terra, o que é quase impossível para nós. Nossas condições são miseráveis", lamenta um deles, Gul Khan, em declarações ao jornal paquistanês "Express". Outro refugiado, Haji Abdullah, acusou as autoridades paquistanesas de deter e encarcerar refugiados. Ele disse que a embaixada já recebeu um pedido para convencer o Governo a ampliar o prazo de retorno. Para Vivan Tan, porta-voz do Acnur, o assunto é bilateral e a organização não pode se intrometer. Como também não pode se responsabilizar pelos afegãos que se negarem a legalizar a sua situação no Paquistão. Tan calcula que pelo menos 50 mil afegãos vivem em diversas cidades paquistanesas e se recusam tanto a se registrar quanto a voltar para o Afeganistão. O Paquistão recebe milhões de afegãos há mais de 25 anos. Nesse período o Afeganistão sofreu a invasão soviética, nos anos 80, uma guerra civil entre facções de mujahedins e a chegada em 1996 dos talibãs, expulsos do poder em 2001, após a invasão americana. Desde 2002 o Acnur administra programas de repatriação voluntária e cerca de 2,8 milhões de refugiados retornaram para o Afeganistão. Ao fim do novo programa de repatriação, o projeto do Governo paquistanês é fechar quatro campos na fronteira, onde viviam 240 mil pessoas.

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