Regime birmanês impõe toque de recolher

Na tentativa de conter protestos, junta militar também proíbe reuniões

PUBLICIDADE

Por Rangum
Atualização:

A junta militar de Mianmá (ex-Birmânia) anunciou ontem toque de recolher das 21 às 5 horas, proibiu reuniões de mais de cinco pessoas e colocou as forças de segurança nas ruas das principais cidades do país, Rangum e Mandalay, para tentar acabar com os maiores protestos em quase 20 anos. O toque de recolher e a proibição de reuniões foram anunciados por meio de alto-falantes em veículos que circularam tarde da noite de ontem pelas ruas das duas cidades. Em Rangum, as restrições foram impostas somente em certos bairros. O governo anunciou que as medidas durarão pelo menos 60 dias e as duas cidades ficarão sob controle militar nesse período. Soldados e policiais armados com fuzis cercaram o templo budista Sule, em Rangum, depois que milhares de monges e simpatizantes realizaram uma nova marcha. Os monges lideraram um grupo de 35 mil pessoas no oitavo dia de protestos pacíficos na antiga capital. Outras 700 pessoas fizeram uma manifestação similar em Mandalay. Na manhã local de hoje, vários outros templos foram cercados por militares. Um dos mais famosos atores do país, Zaganar, foi detido por apoiar os protestos, denunciou um amigo dele à France Presse. Em outro sinal de escalada da tensão, uma fonte citada pela Reuters disse que a líder pró-democracia Aung San Suu Kyi foi levada para a prisão Insein no domingo, um dia depois que ela saudou manifestantes diante de sua casa, onde cumpria prisão domiciliar. Ao longo do dia de ontem, autoridades percorreram as cidades para alertar, com o uso de megafones, que qualquer pessoa que observasse os protestos poderia ser condenada a 3 anos de prisão e os participantes, a 10 anos. As autoridades também distribuíram panfletos ameaçando dissolver à força qualquer reunião ilegal. Ontem à noite, a junta militar também ordenou aos religiosos que se recolhessem em seus templos para evitar a intervenção dos soldados. Na última vez que foi dada uma ordem similar, em 1990, os militares ocuparam os templos e detiveram milhares de monges que haviam boicotado as doações ao Exército. O governo vem tentando resolver a situação sem usar a força contra os monges, que são reverenciados em Mianmá, um país de maioria budista. Durante as marchas, muitos monges têm carregado suas tigelas de arroz de cabeça para baixo, indicando sua recusa em receber as almas dos militares. Os protestos contra a situação econômica foram ampliados no dia 19, quando os monges assumiram a liderança das marchas, exigindo diálogo entre o governo e os partidos de oposição e a libertação dos presos políticos. AP, AFP E REUTERS RESTRIÇÕES Toque de recolher - Junta militar de Mianmá proíbe os moradores de Rangum e Mandalay de sair de casa entre 21 horas e 5 horas Proibição de reunião - Ficam proibidas as reuniões com mais de cinco pessoas Intervenção militar - Rangum e Mandalay vão ser mantidas sob controle do Exército por 60 dias Cerco - Soldados cercam templo budista em Rangum

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.