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Regime do Irã exalta comparecimento de 64% às urnas para legitimar eleição

Foto do author Lourival Sant'Anna
Por Lourival Sant'Anna e TEERÃ
Atualização:

O governo iraniano anunciou comparecimento de 64,6% - 31 milhões de eleitores - nas eleições parlamentares de ontem. O índice supera o da última eleição parlamentar, em 2008, que foi de 61%. Não é possível confirmar o dado de forma independente. Em Teerã, o comparecimento foi visivelmente pequeno. A presença de eleitores tornou-se questão de honra para o regime depois que a oposição, banida, convocou seus partidários a um boicote. A TV estatal mostrou durante o dia todo filas em seções de votação. O horário inicial da votação era das 8 às 18 horas. Acabou estendido até as 23 horas locais (16h30 em Brasília). O resultado da contagem dos votos deve ser anunciado amanhã. O Parlamento unicameral foi ampliado de 290 para 310 cadeiras. O voto é distrital e onde nenhum candidato alcançar um quarto dos votos haverá segundo turno, em data ainda não estabelecida.Com os reformistas e tecnocratas da oposição excluídos pela primeira vez desde a Revolução de 1979, a disputa ficou entre os conservadores - de um lado, os partidários do presidente Mahmoud Ahmadinejad e, de outro, os do líder espiritual, Ali Khamenei. "Um alto comparecimento será importante para manter a segurança e o prestígio do Irã", declarou ontem Khamenei, depois de votar em Teerã. O líder espiritual controla instituições importantes, como o Conselho Guardião, encarregado de selecionar os candidatos e supervisionar o pleito. Nessas eleições, o Conselho vetou 1.409 candidatos, acusados de "atitudes anti-islâmicas". Conselhos locais já haviam desqualificado 506, sob a mesma alegação. Aparentemente, mais de 100 partidários de Ahmadinejad foram excluídos.Na quarta-feira, o ministro do Interior, Mostafa Najar, havia assegurado que, apesar do boicote da oposição, essas eleições parlamentares seriam "gloriosas", com comparecimento dos eleitores "mais maciço do que no passado". A eleição presidencial de 2009 foi marcada por acusações de fraude que motivaram protestos nas ruas, duramente reprimidos. A frente oposicionista Movimento Verde foi banida. Os dois principais candidatos da oposição, Mir Hossein Moussavi e Mehdi Karoubi, estão sob prisão domiciliar. O repórter do Estado esteve entre 10 horas e 11h30 na Mesquita Husseinie Ershad, uma das principais seções eleitorais de Teerã, em área de classe média alta do centro-norte da cidade. Os eleitores chegavam e votavam, sem formar filas. Em contraste, em 2009, enormes filas saíam da mesquita o dia inteiro, dando a volta no quarteirão. Entre 12 horas e 13h30, o repórter esteve na Mesquita Imam Hussein, num bairro de classe média baixa do centro-sul de Teerã. Durante esse horário, que coincidiu com a oração do meio-dia - a mais importante da semana, - formavam-se filas de cerca de 30 eleitores. Noutras seções menos importantes, o movimento era menor."Comparada com outros países, nossa situação econômica está boa", ponderou o corretor de imóveis Berhuz, de 32 anos, que votou em um partidário de Ahmadinejad. Ele elogia o programa de financiamento do governo para a compra de casa. "A situação é instável, mas não estamos insatisfeitos", assegurou o engenheiro Meissa, funcionário da prefeitura de Teerã, que também votou em um candidato ligado ao presidente."Somos partidários do líder espiritual", disse Mohsen Mohamed Hassani, orientador vocacional, de 27 anos, ao lado de sua mulher, que não quis identificar-se. "Para mim não importam os grupos. O importante é se apoiam a Revolução ou não." Sobre o boicote da oposição, Hassani disse: "Os oposicionistas podem ser eleitos, desde que estejam nas listas aprovadas pelo líder". Quanto à inflação de 22% ao ano e à ajuda de US$ 40 por pessoa oferecida por Ahmadinejad para compensar a retirada dos subsídios sobre alimentos e combustíveis há um ano, ele reagiu: "Nós necessitamos dos subsídios", como também é chamada a ajuda mensal. Zohreh Nuri, de 43 anos, empregada numa fábrica de equipamentos de conexão de internet, também votou no bloco de Khamenei. "Como iraniana, apoio todas as decisões do meu líder", declarou ela. "Posso estar de acordo ou não com as decisões do meu presidente. Mas isso não é motivo para ter anarquia no país", continuou Zohren, referindo-se aos protestos da oposição.

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