Relação internacional é entre Estados não entre homens, diz Lula

Na Guatemala, Lula defende encontros com líderes suspeitos de abusos.

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Por Bruno Accorsi
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira, na capital guatemalteca, Cidade da Guatemala, que "a relação internacional não é entre homens, é entre Estados". Os comentários de Lula foram feitos após uma cerimônia em que ele recebeu as chaves da cidade do prefeito local, Álvaro Arzú. Lula respondia à uma pergunta da BBC Brasil sobre o fato de ter se encontrado no espaço de menos de uma semana com o líder do Uzbequistão, Islam Karimov, contra o qual pesam inúmeras denúncias de abusos de direitos humanos, e com o presidente da Guatemala, Álvaro Colom, acusado de haver orquestrado o assassinato de um opositor. Indagado se nestes encontros, diante da gravidade das acusações contra estes líderes, o Brasil não estaria melhor representado por um alto representante da chancelaria do país, Lula demonstrou irritação e rechaçou a tese. "Primeiro, essa é uma visão muito tacanha da relação internacional. A relação internacional não é entre homens, é entre Estados. E as pessoas estão no governo porque foram eleitas. No Brasil, é a mesma coisa", afirmou. O líder uzbeque, Islam Karimov, foi reeleito para um terceiro mandato em 2007, contrariando a legislação do país, que impunha um limite de dois mandatos. ONGs apontaram supostas irregularidades no pleito, vencido por ele por 88,1% dos votos. Sem preconceito Lula retomou a linha de que "quando o Brasil sai para viajar, não é o Lula que sai para viajar, é o Estado brasileiro que está mantendo contato com outro Estado". "Isso vale para a Guatemala, para a China e para o Irã, que eu quero visitar. O Brasil tem uma boa relação comercial com o Irã, então temos que ir lá conversar com o Irã. Quem governa o Irã, é da responsabilidade do povo do Irã, não é da responsabilidade do povo brasileiro. Então, sem preconceitos", afirmou. Um dia após ter assinado uma declaração conjunta no qual manifesta seu "apoio ao governo constitucional do presidente Álvaro Colom, ante as acusações de que tem sido objeto", Lula voltou a expressar solidariedade ao guatemalteco. O advogado Rodrigo Rozenberg deixou um vídeo testamento dias antes de ser morto, em 10 de maio, no qual afirma que o presidente deveria ser responsabilizado, caso algo acontecesse com ele. "E quem disse que denúncia significa alguma coisa? E se não for verdade?", afirmou o presidente brasileiro. Acusações levianas Quando indagado pela BBC Brasil sobre a manifestação de apoio, o presidente enfatizou: "Eu apoio a democracia, meu filho. Eu sei o que aconteceu comigo em 2005, sei o que aconteceu com o (líder da Bolívia) Evo Morales, com o (presidente equatoriano) Rafael Correa, sei o que está acontecendo com a Cristina (Kirchner, da Argentina), sei o que aconteceu com a Michelle (Bachelet, do Chile), com o Chávez, conheço a história desse país e sei que muitas vezes as acusações são levianas." As alusões do presidente ao ano de 2005 foram referência ao escândalo do mensalão. O presidente procurou argumentar que tanto neste escândalo como em denúncias anteriores, realizadas contra outros líderes de esquerda latino-americanos, houve interesse por parte de setores da oposição em minar estas lideranças. Em um pronunciamento realizado minutos antes, na sede da prefeitura, ao lado do prefeito da Cidade da Guatemala, Álvaro Arzú, o presidente afirmou que a eleição do esquerdista Colom é "um passo a mais para a democracia". E acrescentou que "ao ganhar eleições, temos que ter tranquilidade". De acordo com o líder brasileiro, não é possível que o partido que não esteja no governo, "esteja sempre combatendo". Lula afirmou ainda que "o presidente tem que governar, quem ganha tem que governar." Segundo o presidente, a "alternância de poder é fundamental para a democracia". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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