Relatório da AIEA aponta indícios de que programa nuclear do Irã é militar

Anúncio oficial, programado para quarta-feira, 9, deve intensificar a pressão para a adoção de novas sanções no Conselho de Segurança da ONU

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Por GUSTAVO CHACRA , CORRESPONDENTE e NOVA YORK
Atualização:

NOVA YORK - O Irã quer desenvolver armas nucleares, segundo detalhes divulgados na terça-feira, 8, do relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre o programa nuclear do país. O anúncio oficial, programado para quarta-feira, 9, deve intensificar a pressão para a adoção de novas sanções no Conselho de Segurança da ONU e eleva o risco de uma ação preventiva israelense contra instalações atômicas iranianas.

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"Embora algumas atividades identificadas no relatório possam ter aplicações civis e militares, outras são específicas para armas nucleares", diz o texto, que vazou para as principais agências de notícia um dia antes da publicação oficial em Viena.Segundo a AIEA, são quatro as provas de que "o Irã realizou atividades relevantes para o desenvolvimento de um artefato nuclear". Primeiro, ocorreram "esforços, em alguns casos bem-sucedidos, para a aquisição de equipamentos e materiais por indivíduos ou entidades relacionadas a ações militares".Em segundo lugar, o Irã buscou "vias obscuras para desenvolver material nuclear". O terceiro ponto, diz a AIEA, foi a "compra de informações e documentos para o desenvolvimento de armas nucleares de uma rede clandestina". Por último, Teerã "desenvolveu um design doméstico de uma arma nuclear, incluindo o teste de componentes".A AIEA acrescenta que as "informações indicam que antes do fim de 2003 essas atividades integravam um programa estruturado. Também há indícios de que algumas das atividades relevantes para o desenvolvimento de uma arma nuclear continuaram depois daquele ano e algumas delas persistem até hoje".A porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, disse que "os EUA haviam acabado de receber o relatório e ainda não estavam preparados para discutir os próximos passos". "O relatório é desequilibrado, amador e politicamente motivado", disse Ali Asghar Soltanieh, que representa o Irã junto à AIEA em Viena. De acordo com ele, "não há nenhuma novidade no relatório". Além disso, "apesar da disposição do Irã em negociar, a AIEA decidiu publicar o texto, uma ação que apenas manchará a reputação da entidade".No curto prazo, segundo diplomatas, os esforços dos EUA e de seus aliados europeus se concentrarão em uma ação mais dura do Conselho de Segurança. A iniciativa, porém, esbarra na oposição de Rússia e China a novas sanções. "Moscou não quer que joguemos gasolina num carro pegando fogo. Eles acham que dá para curar um paciente apenas tirando o termômetro", afirmou ao Estado um diplomata envolvido nas negociações.Apesar da pressão do Ocidente, Juan Cole, professor da Universidade de Michigan, considera difícil convencer russos e chineses. "A China aumentou em 50% suas importações de petróleo do Irã no primeiro semestre do ano", disse Cole.A hipótese de uma ação militar israelense também não está descartada. "Apesar de ser mínimo o risco de um ataque israelense, essa possibilidade tende a crescer caso Israel considere fraca a resposta da comunidade internacional", afirmou Crispin Hawes, da agência de risco político Eurasia. Hoje, após a divulgação oficial do relatório, o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, pedirá novas sanções ao Irã.

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